31.3.08

Bartok, Prokofiev, Kodaly, Wienawski

Concertos gratuitos com chapéu no fim (entrada livre, paga-se para sair), podem ser surpreendentes para o bem e para o mal - há nuances entre o dualismo. Programa de sábado: Bartok, Prokofiev, Kodaly (foto acima), Wienawski, duos de violino e violoncelo, na escondida Église réformée de Port-Royal (18 Boulevard Arago). Desta vez, minha intuição funcionou. Ótimos solistas, Jérôme Simon, Bertrand Aimar e Maud Simon. Música de grande qualidade para um público seletíssimo, diante das ofertas culturais de sábado à noite em Paris. Difícil "fuga" da sonata de Bartok, executada com rigor e virtuosismo. Lindo duo para violino e violoncelo de Kodaly, gradativamente expressivo em seus movimentos finais.

Curiosidades

O prefeito de Ploërmel, cidadezinha da Bretanha, colocou em prática um dos anseios de boa parte de nossas famílias brasileiras. Instalou 80 câmeras de segurança por toda a cidade, aliadas a um forte programa de denúncias anônimas. É ele quem dá uma entrevista agora na France 3, explicando (ou melhor, defendendo) sua estratégia. Afinal, Ploërmel tem pouco mais de 9 mil habitantes. Nesses tempos de câmeras, o único registro de incidente foi um roubo de flores em frente à estátua recém inaugurada de João Paulo II (acima).

30.3.08

Monicelli, ainda

Difícil resistir ao ciclo Mario Monicelli nesses dias de chuva. Acompanhá-lo na tela grande, em sessões agradavelmente concorridas da Cinemathèque. Por vezes, um sprint final no gramado de Bercy - meu guarda-chuva se desfez num dia de granizos, típicos de abril - é rapidamente recompensado. Dia desses com La Grande guerra (1959), em que os impagáveis Vittorio Gassman e Alberto Sordi se vêem engajados num batalhão para a primeira guerra. Irônico e triste, diante de mortes sempre gratuitas. Hoje, ainda mais, com a exibição de Os Companheiros (I Compagni, 1963), sobre uma simples greve operária do final do século XIX. Mas contada com inocência e realismo impressionantes. Patrões e empregados revelam, aqui, (e descobrem) os mecanismos da greve. Mas não sem a ajuda de um professor/agitador idealista, barbudo, papel de Marcelo Mastroianni.

Dois blogueiros

Só para saudar os blogs de Antônio Davis, Gândara (belo nome, aliás: terra arenosa, improdutiva), torcendo para que os agricultores portenhos tenham diminuído a sua fúria. E de Jorge Coli, pelo site da revista Bravo (Editora Abril, helas!) Ambos já incluídos entre os favoritos. A foto acima do metrô de Buenos Aires, construído quase na mesma época que o de Paris, mas com esse vagão bem mais charmoso, é de Ana Ines Mora (via Gândara).

Marché d'Aligre

Pouco antes de chegar a Paris, descobri que havia perto da rue de Récollets um grande mercado, segundo o site da prefeitura, o "maior mercado coberto de Paris": o Marché Saint-Quentin. E me divertia a idéia de que o nome do açogueiro principal, Monsieur Jouve, era o mesmo de um dos poetas que traduzo. Tirando a lojinha de coisas alemãs (que agora foi para outro lugar), o mercado, no entanto, não tem nenhuma graça. E o mesmo fomos observando Livia e eu em nossas peregrinações pelo Marché de Belleville ou no Faubourg Saint Denis, ou na proximidade da Bastille, ou no insosso mercado do Boulevard Raspail. Por isso, mas não só por isso, é bom conversar com parisienses. Domingo passado, fui fazer compras em plena Páscoa na concorridíssima feira d'Aligre (Marché d'Aligre, metrô Ledru Rollin). Isso sim: ruas sujas, barulho, tumulto, vendedores gritando, preços menores na hora da xepa ou mesmo antes: pimentões vermelhos a 4 reais o kilo, 5 reais para os morangos, temperos e mesmo um boteco, o Baron Rouge, onde é possível comer ostras da peixaria ao lado e tomar uma cerveja. Acima a foto da Charcuterie Beauvau do site L'Internaute, que fez uma matéria sobre o mercado.

28.3.08

A senhoria Julia (1888)

Uma das peças mais conhecidas de Strindberg (1849-1912), dirigida por Miguel Narros, com María Adánez (Julia), Raúl Prieto (Juan) e Chusa Barbero (Cristina) como os únicos personagens de uma história que se passa na cozinha de um palacete sueco. Estará no Teatro Fernán Gómez (Plaza Colón, 4, ao lado da Biblioteca Nacional) até 13 de abril. O dono da casa, o “senhor conde”, não aparece, mas está tão presente quanto essas três personagens, pois é responsável por parte da educação tradicional de sua filha Julia (formada, por outro lado, por uma mãe para lá de feminista), pela admiração e respeito prestados pela empregada Cristina, assim como pela atração e, simultaneamente, repulsa e medo do criado Juan. Entre Juan e Julia, desde o início, há um jogo de sedução que logo se converte em drama moral e existencial, sobretudo para Julia, que se entrega ao criado. O abismo social, de qualquer forma, não pode ser transposto, e ela se debate, ora sonhando, ora cogitando o suicídio. Todas as personagens são bastante complexas e o mérito dos atores é inquestionável, pois jamais se acercam de uma conduta polarizada. Assim, Cristina, apesar de ser namorada de Juan, preocupa-se com Julia, vítima de um rebaixamento incomensurável. Juan, por sua parte, oscila entre um homem inteligente e refinado de baixa extração social e uma pessoa ambiciosa e desprovida de escrúpulos. De todas as personagens, Julia é a única que passa por uma evolução, embora negativa, como num pesadelo que costuma assaltá-la e que será a síntese de sua transição: está sentada numa coluna muito alta, deseja com todas as suas forças descer, mas não pode, tenta diversas vezes, mas fracassa sempre. Sabe, entretanto, que estará satisfeita apenas quando chegar ao nível mais baixo.

Curtas sobre Barcelona (ainda)

Palau de la Musica Catalana. Sala de concertos do início do século XX, prevista inicialmente para o canto coral. "Moderna" no sentido empregado em Barcelona. Acústica estranha com muitos médios, talvez pelo excesso de cristais e do chão de mármore. E uma visita guiada absolutamente dispensável. Talvez melhor apenas nas apresentações noturnas, embora a sala tenha sido concebida para a luz do dia. Duas indicações. A primeira repassada, do restaurante La Fonda. Nome engraçado, comida ótima e preços razoáveis. Na Escudellers 10, possivelmente no lugar em que há uma fila. A segunda, do simpático bar de tapas Vins i tapes, numa esquina da Avenida Laietana com o bairro gótico. Para chegar tarde e sair tarde. Foto acima, detalhe de um dos prédios das concorridas Ramblas de Barcelona.

25.3.08

La Noche española, exposição do Reina Sofía

De tão desatualizado, esse blog anuncia uma exposição de dezembro do ano passado que terminou no último 24 de março. De qualquer forma, merece um comentário porque reúne representações que começaram a se consolidar no fim do século XIX e hoje constituem o imaginário típico do espanhol: o flamenco (inicialmente próprio do proletariado andaluz), o canto, a “guitarra”, o leque, a tourada, a “mantilla”, ciganas e “bandoleros”. Para esse movimento, que começou no romantismo e chegou até as vanguardas, contribuíram estrangeiros e espanhóis. Entre os primeiros, Manet, Courbet (La signora Adela Guerrero, danseuse espagnole, 1851, acima), John Singer Sargent, Degas e suas esculturas em bronze, K. van Dongen, Robert Henri, Theo van Rysselberg, Modigliani (A bela espanhola), os boleros de Nijinsky, as diversas espanholas de Natalia Goncharova. Além disso, Thomas Edison filmou um curta com a dançarina Carmencita em 1894: gorda, desequilibrando-se e por isso mesmo graciosa. Os irmãos Lumière, em 1900, um filme chamado Danse espagnole en la feria Sevillanos e Jean Limur, um documentário didático, com a famosa Argentinita ensinando diversos passos de alegría, tango, sevillano, bulería... Os espanhóis não rejeitaram nenhuma das máscaras, ao contrário, reforçaram-nas. Assim Ignacio Zuloaga (Lucienne Breval en Carmen, 1908), Julio Romero de Torres (Manola, 1900-10), Gustavo Adolfo Bécquer (em seus auto-retratos), Santiago Rusiñol, Ricard Canals, Ramón Casas, Gonzalo Bilbao e as infinitas guitarras, femininas e cubistas, de Picasso, Ángeles Ortíz, Juan Gris. Também compareceram Gutiérrez Solana (Café cantante, 1910-17 ou La cupletista, 1927), Regoyos ou Nonell, embora com certo pessimismo, conforme com o livro de viagens España Negra (de E. Verhaeren e Darío Regoyos). E esse não foi único livro que ajudou a fundar o típico de Espanha. Entre outros, Merimée (Carmen), Pierre Louÿs (La femme et le pantin), Charles Davilier (L’Espagne, ilustrações de Gustave Doré), T. Gautier (Voyage en Espagne) e Rilke (“Bailarina espanhola”, 1906) observaram-na ora tentando explicá-la, ora seduzidos pelo folclore que engendravam.

Mario Monicelli na Cinemathèque Française

A Cinemateca francesa começou no sábado passado um ciclo Mario Monicelli, diretor de O Incrível Exército de Brancaleone, Casanova '70, Meus Caros Amigos, Le Pigeon, dentre tantos outros. Com a presença do próprio cineasta, trata-se de uma restrospectiva que irá até fim de maio (com alguns filmes programados para o ciclo seguinte, em junho, sobre as comédias italianas) e reunirá toda a sua produção, desde os filmes que dirigiu em parceria nos anos 50 com Steno, humoradíssimos, com um pano de fundo cada vez mais social, até os mais recentes, como A Rosa do deserto de 2006, curiosamente pouco distribuídos na França. Domingo escolhi para ver Totó e os reis de Roma (Totò e i re di Roma, 1951) sobre um arquivista, Ercole Pappalardo, que para manter o emprego no Estado é capaz de tudo. Mas as coisas vão dando errado. A família vive em dificuldades. Um dia, no teatro, Totó cospe sem querer (talvez) na cabeça de seu chefe, sentado na platéia. Este descobrirá mais tarde que o arquivista não tem nenhuma formação escolar. Totó volta para a escola. No fim, uma espécie de suicídio voluntário, cena em que Totó anda à frente do cortejo fúnebre para não pagar os custos de seu próprio enterro, é motivada pela possibilidade de antecipar à mulher e às filhas, post-mortem, o resultado dos números da loto.

24.3.08

Espinosa de Henares

Um dia inteiro nesse pueblo de Guadalajara onde vivem 300 habitantes. Qualquer passeio, por menor que seja, encontra o fim da cidadezinha e é possível ver os campos onde cultivam milho, as montanhas, as estradas, o rio Henares. Pelo que pude averiguar, lá existem três mercados pequenos onde se vende de tudo um pouco, também uma padaria, um bom restaurante, uma igreja. Na estação de trem não há funcionários, por isso compra-se o ticket para ir a outras partes com o próprio revisor, já dentro do trem. Nem riqueza, nem pobreza: todos parecem viver dignamente e, claro, bem tranqüilos. Uma ou outra coisa nos faz pensar em um lugar parado no tempo, sem as necessidades de consumo a que estamos habituados. As crianças na rua, brincando de pique-esconde, gente conversando aqui e acolá ou tomando sol num banco, o olhar espantado daqueles que me observam com uma câmera fotográfica, ou esse simpático senhor da foto, bravo com uma menina que em sua opinião se arriscava incrivelmente, pois ia com sua bicicletinha olhando para trás e não para frente. Ele passou por mim, disse "buenas" e seguiu, devagar e sem olhar para trás, com sua trouxa amarrada a um galho.

Semana Santa, Madrid

Se a fé fosse fruto de convencimento estético, jamais se poderia compreender as manifestações e o fervor dos religiosos madrilenos. Quarta passada fui à Plaza de Oriente às 19:30h para ver uma Vía Crucis Solemne. Imaginava uma espécie de representação dos passos de Cristo ou algo do gênero. Nada disso. Em meio a um coro bem chochinho, o máximo de solene era a bata roxa que usavam os padres ou a presença de algumas monjas, fiéis segurando cruzes e o vento, um vento forte e gelado em pleno início de primavera, para que cada um provasse o alcance de sua fé. Descontente com essa mostra religiosa, insisti e fui, sexta-feira da Paixão, à Procesión Jesús Nazareno de Medinaceli, a mais conhecida por aqui. Descobri que era um desfile: fanfarra, senhoras vestidas com roupas negras e usando a "mantilla", homens carregando estandartes ou velas artificiais, pessoas com roupas comuns (as únicas que não levavam uma carteirinha no peito), descalças e arrastando correntes, além dos famosos penitentes, de roxo, vestindo carapuças que só lhes deixavam o buraco para os olhos (como os condenados pela Inquisição ou os membros da Kukluxkan). Por fim, o andor dourado e grande, decorado com flores, com o Jesus de Medinaceli. Após outra fanfarra e mais algumas senhoras de carteirinha, a multidão, que também queria seguir a procissão, separada por um cordão de segurança. Dizem que 800 mil pessoas acompanham todos os anos a procissão. Vendo, eu diria que 20 mil (incluindo, claro, a multidão), segue de fato o desfile, o resto está enfileirado à direita e à esquerda para ver e tirar fotos.

Tarragona

Tivemos o gosto e a sorte de ficar, em Tarragona, na casa de nossos amigos, Andreia e Ata, "disfrutando" da companhia deles e de sua filha, Laís, lá na calle Cavallers, pertinho da catedral, onde antigamente os ricos construíam suas residências. Não é à toa que justamente ao lado da casa deles está a Casa Castellarnau, documentada desde o século XV, residência temporária de Carlos V no século XVI. O nome se relaciona com aquele de seus últimos proprietários (já no século XVIII), antes de tornar-se propriedade do município. Há muitos e muitos anos atrás, três grandes conjuntos de edifícios romanos dominaram a Tarraco (antigo nome da cidade), formando três níveis espaciais e funcionais interligados. No mais alto, estava um prédio dedicado ao culto imperial (na região da atual catedral), mais abaixo a Pretoria, dedicada aos trabalhos administrativos, e perto do mar estava o Circo. Muito disso foi conservado, embora não como o conjunto que formava antes e apesar de ter passado por vários usos ao longo dos anos. O circo, por exemplo, foi castelo na Idade Média, prisão até metade do século XX e armazém. A cidade é encantadora, com a imensidade do mar e a grande quantidade de ruínas e construções romanas, que se misturam com a vida do dia-a-dia e com os pequenos edifícios modernos. Pequena e cheia de vida, com muita gente caminhando à noite pelas ruas do centro e pela Rambla. O passado é cada vez mais presente em Tarragona, pois, nos contam Andreia e Ata, há grandes chances de se encontrar preciosidades de milênios atrás em qualquer parte que seja escavada por qualquer motivo: reformar, fundar uma casa ou trocar o encanamento! Daí, em função da descoberta, se adia a obra ou se esconde ainda mais os seus eventuais indícios. (À esquerda da foto, o prédio do ensaio dos casteleiros!)

23.3.08

Emile Parisien Quartet

Ainda sob o choque do concerto de ontem na casa de jazz recém inaugurada, Les Disquaires (6 rue de Taillandiers, metrô Bastille ou Ledru- Rollin). Concerto dos jovens rapazes do Emile Parisien Quartet: Emile Parisien no sax alto, Ivan Gelugne no baixo acústico, Julien Thouery no piano, Sylvain Darrifourcq na bateria. Jazz contemporâneo, inventivo. Barulhento, além disso, mais do que dava para pressentir nas gravações em estúdio do ótimo disco Au Revoir porc-épic, lançado em 2006 (foto acima). Como no cartão de publicidade do concerto, provocativo: Mais impressionante? Mais potente? Não existe. Jazz sem concessões, mesmo ao próprio jazz e a sua estrutura tradicional tema/coro/tema. Podem-se ouvir alguns trechos aqui. Em tempo, num cenário freqüentemente chique do jazz parisiense, ou caro, os Disquaires permitem três formas de couvert (o termo é francês, mas não é o que se usa aqui): 5 euros para os sem grana, 7 euros preço normal, 10 euros preço royal.

20.3.08

Para o alto e avante!

Tava na cara que, mais dia menos dia, ia acontecer. Para quem é usuário do velib, sistema de bicicletas de Paris, é possível constatar que há sempre regiões com mais bicicletas ao longo do dia do que outras. Uma das razões é que todos vão para o centro da cidade. Assim, nas regiões periféricas só há bicicletas cedo da manhã e tarde da noite. Mas a prefeitura de Paris fez uma outra constatação. Nas partes mais altas da cidade quase nunca há bicicletas. Todos descem para o trabalho e, evidentemente, voltam de metrô. Pois bem, agora há recompensas em tempo de acréscimo (o uso gratuito é de 30 minutos), para aqueles que conduzirem as bicicletas a algumas dessas regiões (o que significa enfrentar pequenas colinas). Fica a espera para que as três estações aqui em frente sejam incluídas no índice de desnível.

19.3.08

Impressões

Para uma viagem de quase 4 dias em Barcelona e 2 em Tarragona, não é possível muito mais do que impressões. E a comparação é inevitável: a metrópole regional e a cidadezinha a seu lado, a quase 100 kilômetros. As duas com suas Ramblas, um supercalçadão em que é possível passear com a família e tomar sorvete, em Tarragona, ou acotovelar-se com milhões de turistas divididos entre as bancas de flores, o caro mercado da Boqueria (onde se compra um Jamón pelo triplo do preço comum), e os artistas de rua: nada mais do que aqueles, tão comuns no Brasil, que fingem ser estátuas, fantasiados e perfilados em toda a sua extensão.

Comparar também a agradável visão do anfiteatro romano de Tarragona (visto do alto da cidade), com suas praias ao lado, com a costa povoada de barcos e mesmo com um shopping center em Barcelona. Tarragona e suas ruas e casas contruídas sobre um circo romano, onde dois amigos que nos acolheram vivem com a linda menininha da foto acima, a Laís, incumbida de uma tarefa improvável: subir ao alto de um Castell/Castelo, construção humana em vários níveis, tradição da cidade.


Barcelona tem as estranhas construções de Gaudi, ídolo local, como a disneylandesca Sagrada Família, a Pedreira, a Casa Batló. Também dois parques que ficam muito bonitos nas fotos, o Parc Guell e o da Ciutadella (estão no flickr). Um Museu Picasso, o primeiro que lhe foi dedicado, que reúne a produção do período em que residiu na cidade. Uma Fundação Miró, que não tivemos tempo de visitar, para ir ao fantástico Museu de Arte da Catalunya (capítulo à parte). E bares e restaurantes sempre simpáticos, informais.

Mas a impressão é de que o turismo segue aí por inércia. Sol, praia, tapas, prédios esquisitos. Deram-nos mapas precários. Não havia informação sobre os museus, a não ser uma folha xerocada com horários. O transporte era lento. As atrações para turistas, além disso, nos distraíram de passeios certamente mais agradáveis (o parque Montjuic) e menos concorridos.

13.3.08

Barcelona e Tarragona

Mais uma vez o blog vai tirar férias, para ficar ainda mais desatualizado: destino Barcelona e Tarragona. Isso muito embora o concerto de hoje do Messias do Handel na Église Saint-Augustin fosse algo para, definitivamente, ser esquecido. Nunca torci tanto para que não tivesse bis. E não teve.

No caminho de casa, nesse dia de chuva, resolvi fazer hora num dos lugares de sonho de Paris. Para quem não conhece, um outro blogueiro disponibilizou fotos e fez um relato: a Grande Epicerie de Paris, onde é possível comprar os macarons acima.

12.3.08

Le forum catholique

A internet tem coisas interessantes. Descubro agora um fórum católico francês bem animado, com documentos, discussões políticas, recomendação de livros, encomenda de rezas. Por ora, vou vendo na ferramenta de busca se pelo menos eles leram os poetas que resolvi estudar.

Parcialmente, Francis Jammes, Paul Claudel e Oscar Milosz sim.

Alcalá de Henares

Cidade nos arredores de Madrid, a 45 minutos de ônibus ou com o trem de "cercanías Renfe". Um dia inteiro é suficiente para passar pelas ruas do centro histórico por duas ou três vezes. Também é suficiente para visitar os principais pontos turísticos, com pausa de duas horas para comer veado assado na casa de uma amiga (soa estranho, mas foi exatamente o que fiz). Pela manhã conheci as ruas de los Libreros e a Mayor, a casa natal de Cervantes, a Casa de Socorro, o Hospital de Antezana (de 1483 e com toda a cara de que era dessa época, tamanha a sua desolação), a Capilla del Oidor, o Colegio Mayor e a Capilla de San Ildefonso (ou, em outras palavras, a antiga Universidad de Alcalá). Sem dúvida este último é o principal monumento da cidade e também o mais restaurado (sua fachada, acima). É do século XVI e por ela passaram Lope de Vega, Tirso de Molina, Calderón de la Barca... além de todos os prêmios Cervantes, pois é em seu Paraninfo que se realiza a cerimônia anual. A tarde se mostrou exaustiva mas em igual medida recompensadora. Porque era a única interessada, recebi tratamento vip em uma visita guiada ao Monasterio Cisterciense de San Bernardo (depois tive que sair e tomar um mosto para poder trocar o dinheiro... claro que com uma única visitante eles não teriam troco para 10€). Em seguida, vi o Palacio Arzobispal, que não pode ser visitado simplesmente porque tudo o que tinha foi destruído na guerra civil! Depois, o Corral de Comedias, o mais antigo da Espanha, que no próprio edifício apresenta o modo como o espectador e o teatro foram mudando: primeiro corral de comedias, depois teatro do século XVIII, depois do XIX, finalmente cinema. Também fui à Catedral Magistral de los Santos Domingo y Pastor (que é magistral por fora, não por dentro). Durante o pôr do sol (demorado já nesta época do ano), passei pela Ermita de Santa Lucía, a Puerta de Madrid, o Recinto Amurallado, a Casa de la Entrevista, o Colegio de los Irlandeses, o Colegio-Convento de los Caracciolos e a rua dos Conventos Menores. Já de noite e cheia de dor nas pernas, visitei o pátio do Colegio del Rey (mantido atualmente pelo Colegio Cervantes).

Église de Saint Merri

Duas vezes por semana a igreja de Saint Merri (na imagem acima, ao fundo), próxima ao Centre Pompidou, organiza concertos gratuitos - ou quase gratuitos, com o chapéu no intervalo. Dia desses foi a vez de Luca de Bernardi e Sandra Silvio se apresentarem ao lado do pianista Raphaël Epstein para árias e duos de ópera, além de canções de Manuel De Falla e Villa-Lobos (as "Bachianas Brasileiras"). Nada muito desconhecido, é verdade, para a alegria do público: "La donna è mobile", "Nessun Dorma", "Je veux vivre dans le rêve" de Gounoud. Mas cantado com precisão e entusiasmo, talvez para superar as dificuldades de acústica dessa igreja do século XVI.

11.3.08

Musée Maillol, Fondation Dina Vierny

Já faz bem duas semanas que Livia e eu visitamos o Musée Maillol, Fondation Dina Vierny, (56-61 rue de Grenelle, metrô Rue du Bac, próximo da simpática livraria Gallimard do Boulevard Raspail). Museu de duas coleções: de obras do escultor Aristide Maillol e de outras reunidas pela galerista Dina Vierny, que foi igualmente modelo do escultor desde os seus 15 anos. Em sua coleção há telas de Gauguin, Bonnard, Odilon Redon, Maurice Denis. Várias de Henri Rousseau, em torno das quais constituiu um importante acervo de telas "primitivas". Reuniu, além disso, desenhos de Picasso, Degas, Valladon e Fujita, um estranho acervo de pintura russa moderna, obras dos irmãos Duchamp, além de esculturas interessantes de Robert Couturier, Cornelis Zitman e Emile Gilioli.

10.3.08

El Atlas de Borges

Esse é o nome da exposição de fotografias que María Kodama fez em diversas viagens com Jorge Luis Borges, com algumas gravações em que Borges relê seus textos e um documentário, Borges, el eterno retorno (dirigido por Fernando Flores e Patrícia Enis). Estará na Biblioteca/Archivo Regional de la Comunidad de Madrid (c/ Ramírez de Prado, 3-4) até 23 de março e é patrocinada pela Fundación Internacional Jorge Luis Borges e a Comunidad de Madrid. As fotos nos levam a Genebra, ao Egito, ao deserto do Saara, ao festival de Jazz de Nova Orleans, ao Japão, a Paris ou a Londres (nessa última cidade, vejam que coincidência, María Kodama tirou uma foto do bar Sherlock Holmes a partir da calçada que está em frente, exatamente como fizemos Pablo e eu, além de tantos outros). Pois justamente nesse parêntese encontramos o interessante da mostra: o lado mais comum e, por que não, mais humano de Borges, posando para fotos ou descansando num quarto de hotel. Também o documentário tinha sua graça e sensibilidade, apesar da mania incessante de querer encontrar na obra escrita o homem de carne e osso, esse das coisas triviais.

9.3.08

M, Matthieu Chedid

É certamente um preconceito, mas não gosto da música francesa em geral. Nem pop, nem rock, nem das canções: Charles Aznavour, Édith Piaf, essas coisas. Acho mesmo o Claude François e o Johnny Hallyday inacreditáveis (a tal da O Marie, si tu savais não sai da minha cabeça). Excluo da lista, bien entendu, Henri Salvador. M, isso mesmo (talvez por conta de seu cabelo), ou Matthieu Chedid é, no entanto, um cantor pop inventivo, autor da trilha sonora à la Django Reinhardt do ótimo As bicicletas de Belleville, cujo clip está no link.

Antologia de imagens

Na primeira vez que fomos ao Louvre, Livia e eu ficamos surpresos com a quantidade de japoneses de todos os lados, fotografando tudo, filmando tudo. Com um certo espanto, sobretudo diante do incômodo dos flashs (ainda hoje tentar ver a Monalisa é prova de tolerância), não me imaginava na mesma situação alguns anos depois, passeando pelo Louvre enquanto reúno uma antologia pessoal de imagens, não exaustiva. Mas é difícil resistir. Os catálogos do museu são gigantescos e intransportáveis. O banco de imagens na internet é incompleto e lento. Além disso, há distorções cromáticas na lente das câmeras que a memória e o Photofiltre ajudam a tentar corrigir. Pois bem, começo a colocar algumas delas no flickr. Duas, no entanto, Le Jeune dessinateur e La Bénédicité de Jean-Siméon Chardin (que podem ser ampliadas), estão acima. Nelas é possível notar a influência da pintura holandesa de Johannes Vermeer.

Biblioteca Sainte-Geneviève

Cada biblioteca de Paris, uma história. Um amigo me indicou essa acima, a Biblioteca Sainte-Geneviève, que fazia parte da antiga abadia e está ao lado do Panthéon da Sorbonne (número 10), com uma coleção de 2 milhões de documentos. Linda, talvez uma das mais bonitas da cidade (das que conheci até agora, evidentemente), com seus arcos de ferro. É também uma das mais descomplicadas: aberta para qualquer um que tenha o Bac, carteirinha pronta na hora e a possibilidade de consultar o acervo até as 10 da noite, mesmo no sábado, o que é raro aqui.

8.3.08

Coisas de Madrid

Entre as insuportáveis (apesar de não parecer): você segura uma das portas de entrada ou saída do metrô (que são pesadíssimas e, uma vez empurradas, se voltam com muita força para evitar que saia o aquecimento) e a pessoa que está atrás, em vez de também segurá-la, passa ...simplesmente..., você lá, como se fosse um "cavalheiro".
* * *
Entre as mais divertidas: os cabelos dos rapazes mais jovens, de comprimento médio, com uma crista repicada em cima e passado a máquina ou cortado muito curto acima das orelhas. Também as roupas das espanholas de meia idade, que tentam ganhar pelo excesso, quanto mais melhor: lenço curto e colorido no pescoço, blusa, casaco, sobretudo, brincos grandes, vários colares, anéis de todas as espécies e claro, a marca distintiva, um broche grande. De preferência, tudo descombinando. Nas pernas, uma calça leve (em geral de poliéster) que contrasta inevitavelmente com a quantidade de roupas que usam na parte de cima do corpo. No caso das jovens, cigarro, celular, fones de ouvido e maquiagem pesada nos olhos. Sempre pouca roupa, apesar do cachecol enorme, com várias voltas no pescoço. E meia-calça escura fio 70, mini-saia ultra mini de algodão liso bem leve, para ter que ficar segurando quando venta!
* * *
Entre as mais simpáticas: dizerem "hola, buenas" por todas as partes e se despedirem depois de dar uma informação dizendo "venga, venga". Os balcões dos bares, sempre cheios, sempre ruidosos, com milhões de guardanapos no chão.
* * *
Uma foto: que tirou Dong Hwan Kim, um amigo da Coréia do Sul, para que todos nós pudéssemos recordar a última aula sobre crítica e autobiografia hispano-americanas (4 horas consecutivas por semana, numa sala sem janela) na hora de escrever nossa própria autobiografia...

7.3.08

Museo Sorolla

Que boa vida teve o pintor valenciano Joaquín Sorolla Bastida (1863-1923), pelo menos a partir de 1911. Isso a julgar pela casa que mandou construir nessa data em Madrid e que hoje constitui a Casa-museo Sorolla (General Martínez Campos, 37). Um palacete magnífico e incrivelmente conservado que nos faz entender rapidamente como viviam as pessoas daquela época que tinham dinheiro e, sem dúvida, bom gosto. Antes de entrar nas salas que funcionavam como ateliê, passamos por um jardim espetacular, baseado nos Reales Alcázares de Sevilha, no Generalife de Granada e, inclusive, com decoração e plantas dessa região andaluza. Há uma fonte graciosa e em frente mesinhas e cadeiras debaixo de um alpendre cujo teto é inteiramente coberto por plantas: um convite para que nos sentemos depois do passeio! Na sala de estar e na copa, esta última decorada com cerâmica de Talavera, é impossível não pensar “que conforto!”, “que agradável aqui!”. A casa propriamente dita é dotada de uma luz natural impressionante, que não poderia ser outra vendo os quadros de Sorolla, sempre sensíveis aos efeitos da luz, no modo como ela é filtrada a partir de uma cortina, de um guarda-sol, de um chapéu, nas diferentes estações, nas praias, nos penhascos asturianos, em dias chuvosos ou completamente azuis (acima, La bata rosa o después del baño, óleo sobre tela de 1916).

6.3.08

Mahler, sinfonia 8

Estive agora há pouco na montagem da ambiciosa 8a sinfonia de Mahler, no Palais de Paris Bercy. Sinfonia "dos mil", com 850 cantores, destes 350 crianças e enorme orquestra, dirigida com energia por Christoph Eschenbach. Com ótimos solistas: Marina Meschiriakova, Erin Wall, Marisol Montalvo, Nora Gubisch, Annette Jahns, Nikolai Schulkoff, Franco Pomponi e Denis Sedov, ninguém com voz pequena. Mas que contaram com uma mãozinha de discretos (por vezes, na verdade, indiscretos) microfones. Afinal, cantar para um ginásio não deve ser fácil. E isso com direito, aliás, a cambista na entrada e barraquinha de cachorro-quente. Em tempo, aproveito a nota musical para incluir nela o concerto de câmara a que assisti domingo passado. Música barroca de Scarlatti, Clément dall'Abaco e Salvatore Lanzetti na igreja Saint-Merri, uma das poucas em Paris com ótima programação gratuita, no seguinte link. Executada por Pierre-Augustin Lay no violoncelo barroco, Annabelle Blanc no cravo, e outra moça também no violoncelo, embora sem nome no programa.

5.3.08

La Panetière

Dia desses saímos, Livia e eu, mais uma vez com o auxílio do site Mmmm e do guia Routard, para uma aventura gastronômica. Dentre tantas ofertas, escolhemos o discreto La Panetière, numa rua escondida perto de Montparnasse, e que, na verdade, não estava nem no mapa: rue Maison de Dieu, 9, metrô Gaité. Jantar curioso: marido atendendo os clientes, madame na cozinha. Mas para pratos excelentes, sobretudo na relação qualidade/preço: fois gras ou noix de saint-Jacques de entrada, brochette de cordeiro de prato principal, com ótimas batatas assadas/fritas e torta de chocolate com creme de sobremesa. Tudo de ótima qualidade, com um atendimento simpático de tão lento. E com o direito a ser acompanhado, ao fim, pelo dono do restaurante até a porta, com cumprimentos de mão e convite para um outro jantar. A parede amarela da foto acima já não é mais a mesma.

Primeiro mundo

Difícil não perder uns quilinhos em Paris com tantas caminhadas, museus, parques, igrejas e escadas do metrô. Talvez sabendo disso, as máquinas de lavar daqui (imagino eu) já vêm naturalmente reguladas para encolher, de forma discreta (sem grandes surpresas), mesmo nos programas de menor temperatura, as roupas dos visitantes.

4.3.08

Los balcones de Madrid

Los balcones de Madrid é uma peça de Tirso de Molina que, apesar do título, é representada pela primeira vez em Madrid, no discreto Teatro de Cámara Chejov (c/ San Cosme y San Damián, 3) sob direção de Angel Gutiérrez. Conto que devo estar de mau humor permanente porque não gostei de nada (ou quase nada), apesar de ser sempre mais interessante ver uma peça encenada do que apenas conhecê-la por ter lido. Tudo era romântico, exagerado e costumbrista no pior sentido e a escolha musical era de arrepiar (parêntese de exceção para o ator que representava o conde D. Carlos, German Torres). O mais curioso foi a peça fora da peça, quando eu saía em direção ao metrô Lavapiés. Justo em frente, um grupo de policiais, dois camburões, quatro manifestantes e um monte de curiosos; resquícios da confusão de duas manifestações simultâneas na praça Tirso de Molina, uma fascista e outra anti-fascista. Um conhecido com quem me encontrei na saída do teatro jurava que era uma representação de rua... oxalá fosse mesmo ficção!

Centro Cultural Conde Duque, Madrid

Bem perto da Plaza de España está o Centro Cultural Conde Duque que até a época de Franco foi um quartel. Além de várias salas para exposições, possui a biblioteca histórica da comunidade de Madrid, uma videoteca e uma biblioteca de música. Eu tinha a intenção de visitar apenas uma das exposições que propunham, mas era tão pequena que acabei vendo outras duas. Nenhuma delas realmente instigante, mas a entrada é sempre gratuita e, convenhamos, visitar três sem ao menos se cansar pode ser bom para espairecer! A primeira sobre uma poeta da geração de 27, republicana e da Opus Dei, Ernestina de Champourcin (1905-1999). A segunda sobre livros pop-up, ou, trocando em miúdos, livros que ao serem abertos desdobram objetos, casas, personagens, animais, etc. A última e sem dúvida a mais interessante mostrava a coleção de arte espanhola do século XX de Antonio Ródenas (1922-1997). Dos artistas que ele admirava, os que mais me chamaram a atenção foram Juan Haro (esculturas), Cristino Mallo (nanquim, aquarelas e pequenas esculturas em bronze), Benjamín Palencia (curiosa produção, que ora me parecia lindíssima, ora de um mau gosto e de un naïf supremos; era dos preferidos de Ródenas), e um belo quadro de Manuel Palmeiro. O nanquim acima é de Cristino Mallo.

3.3.08

Musée du Quai Branly

Domingo fui cedo ao Musée du Quai Branly em Paris, assim denominado para fugir ao que se poderia chamar de "museu de arte primitiva": África, Américas (nada do Brasil, aliás), Ásia, Oceania, tudo, enfim, que não é Europa. Conceito difícil que, apesar disso, norteia a enorme coleção de objetos disposta num prédio moderno, com um interior pouco iluminado, lembrando o Museu de História Natural de Londres. Separado em continentes (cada um de uma cor) e por temas, com uma passarela central e mediatecas. Tudo isso com plaquinhas minúsculas, explicando o objeto, a atividade que ele desempenhava e sua função ritual. Para um leigo, tirando a beleza de algumas peças, sobretudo as da Oceania, absolutamente complicado. E isso sabendo da impossibilidade de organizar a coleção por ordem cronológica: para cada compartimento recobrem-se, às vezes, 3 milênios. O curioso, no entanto, é constatar que, se a data das obras pode variar enormemente (mesmo, se em alguns casos, elas não são tão diferentes assim), a aquisição delas (a entrada nas coleções oficiais) é bem datada. Trata-se, para uma grande parte, do período entre 1900 e 1930, época que reúne curiosamente as vanguardas e a história colonial francesa. A foto acima é de Patrick Gries et Bruno Descoings.

2.3.08

Curtas de Madrid

Pablo cortou o cabelo faz já quase um mês, em Aluche, no bairro em que moro em Madrid. Deu instruções em português e pagou a metade do que custaria em Paris. Para os interessados, procurar Iraci, na calle Tembleque, 111, bem pertinho da saída do Metrô Empalme.

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Lixão de livros novos sobre arte em geral, literatura, história, jogos, culinária? Na calle de la Salud, em Madrid, estão os que a Casa del Libro quer se livrar o quanto antes e, por isso, nos dá um empurrãozinho, dividindo os preços às vezes por três.

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Dia desses entrei numa capelinha de exterior pra lá de simples, a San Antonio de la Florida (Glorieta de San Antonio, 5). O estranho é que tinha uma capela idêntica justo ao lado. É que nessa onde entrei, conhecida como Ermita de San Antonio, está enterrado Goya desde 1919 e há afrescos que ele pintou entre agosto e dezembro de 1798, muito luminosos e alegres. Como aí já não se podia rezar com tantos visitantes, fizeram uma réplica.

Oscar nacional

Paulo Henrique Amorim fez, com a ajuda de um suposto leitor, uma brincadeira ótima sobre os filmes que ganharam o Oscar e algumas personalidades nacionais, aqui.

Musée Zadkine, Jardin de Luxembourg

Ontem, o plano era passar em algum momento da tarde no Musée Zadkine, museu constituído em torno da obra do escultor Ossip Zadkine e de sua mulher, Valentine Prax, excelente pintora, numa pequena casa-ateliê da rue d'Assas, perto do Jardin de Luxembourg. Foi mesmo difícil entrar num museu em plena tarde ensolarada, com senhores jogando uma espécie de bocha, aqui chamada de petanque (é certo, com outras regras e procedimentos), e as cadeiras do parque convidando para uma leitura agradável. Pois bem, nada como dar a sorte de encontrar um museu belo, com um lindo jardim em que as esculturas femininas vão tornando-se elas-mesmas árvore, e de dimensões reduzidas, para uma visita de 40 minutos. O jardim de Luxembourg passa a fazer parte do passeio. Bom para alongar as pernas. A foto acima é de uma das esculturas do jardim de Luxembourg. As de algumas esculturas de Zadkine estarão no flickr.

1.3.08

Abadias na França

Um colega, depois que lhe falei de meu interesse pelo Max Jacob, emprestou-me um livrinho bem interessante. Trata-se de um guia das Abadias na França, escrito por François Collombet (Éditions du Huitième Jour). Nele o autor reúne informações sobre mais ou menos 50 abadias espalhadas por todo o território francês, da abadia de Lérins, que fica situada numa ilha inteira próxima de Cannes, à abadia do espetacular Mont Saint-Michel (foto acima). Todas elas acolhem peregrinos, retirantes ou simplesmente aqueles que desejam desfrutar de uma hotelaria modesta e silenciosa. Algumas hospedam só homens, poucas só mulheres. Talvez seja necessário fazer uma ou outra atividade, além da reza. Os custos, igualmente, variam (em algumas paga-se o que se julgar conveniente). Mesmo a alimentação é, por vezes, incluída. O mais difícil, no entanto, são as distâncias. Várias das abadias situam-se a 30 ou 50 kilômetros da estação de trem, o que torno o acesso difícil. Bom, como ia fichar para mim, divido as anotações e os links mais interessantes.

Abadia do Mont Saint-Michel, Fraternité Monastique de Jérusalem - site, Gare de Pontorson, Normandie, tel. 02 33 58 31 71 (email hotellerie@abbaye-montsaintmichel. com), em torno de 20 euros.

Abadia Sainte-Foy, Conques (a abadia é patrimônio mundial da humanidade e tem um belo tímpano do julgamento final) - site, Gare de Rodez (40 Km), Midi-Pyrénées, tel. 08 10 11 17 55, (email conques@mondaye.com, endereçar ao frère hôtelier).

Abadia de Solesmes, comunidade beneditina (próximo de onde morou o poeta Pierre Reverdy) - site, Gare de Sablé (TGV Paris-Nantes), a 3 km, Pays de la Loire, tel. 02 43 95 03 08, (email hospes@solesmes.com), em torno de 28 euros, com alimentação, apenas para homens.

Abadia Notre-Dame-du-Port-Salut, Entrammes, comunidade cistercense trapista - site, Gare Montparnasse-Laval, depois ônibus para Entrammes, Pays de la Loire, tel. 02 43 61 18 64 (email ab.port.salut@wanadoo.fr), 23 euros, preço indicativo.

Abadia de Saint-Michel de Frigolet (17 kilômetros de Avignon) - site, Gare de Tarascon ou d'Arles, tel. 04 90 95 70 07, (email abbaye@frigolet.com, endereçar ao frère hôtelier), 28 euros.

Abadia de Lérins, Cannes, comunidade cistercense da Imaculada Conceição - site, Gare de Cannes, depois gare maritime e 25 min. de travessia, tel. 04 92 99 54 00, (email hotellerie@abbayedelerins.com), 30 euros, na abadia há uma vinícula.

Abadia de Fleury, Saint-Benoît sur Loire, (onde se hospedou Max Jacob), próxima de Paris - site, Gare de Orléans, depois ônibus, linha 3, na direção de Gien ou Briaire (uma hora, sai às 6:40, 12:20, 17:30, 18:25), tel. 02 38 35 72 43, (email accuel@abbaye-fleury.com, endereçar ao frère hôtelier), 30 euros (hospedagem para homens, mulheres e crianças).

Abadia de Vézelay - Bourgogne, Gare de Montbard, depois ônibus, tel. 03 86 32 26 12, (email jerusalem.vezelay@wanadoo.fr), dispõe de uma cozinha comunitária.