30.6.08

Fin de séjour, rumo a Campinas

Acima, nosso ônibus de volta pra Campinas! Com ele, deixamos esse blog depois de muitas notas publicadas com vários dias de atraso. Também de notas imaginadas e jamais escritas, sobre uma representação de La Megère aprivoisée tão impressionante de Oskaras Korsunovas, sobre as casas de Ramón ou a zarzuela La leyenda del beso, sobre queijos, brioches, palmiers, croissants e restaurantes que arriscamos aqui e acolá, com mais ou menos sorte. Sobre os amigos que ficarão aqui, do outro lado do atlântico. Mas ainda nos restam alguns dias de viagem, um pouquinho de Portugal: Lisboa, Sintra, Porto, cujas fotos estarão no flickr e cujas histórias serão contadas pessoalmente. Com um "até logo" a familiares, também a amigos (uma parte deles reencontrados através do blog) e a misteriosos e por vezes fiéis leitores anônimos.

Livia e Pablo.

Pirandello

O entusiasmo pelo filme A dupla vida de Mattia Pascal de Mario Monicelli (1985), inspirado pela novela de Luigi Pirandello, com Marcelo Mastroianni no papel principal (acima), nos levou a assistir mais recentemente a Seis personagens em busca de um autor, montada pelo simpático, improvisado e infernalmente quente Teatro do Nord-Ouest. Trata-se de um ensaio teatral invadido por seis verdadeiros personagens, que procuram alguém que conte a sua história. Na montagem, sem tanta direção talvez por ironia, a passagem apenas sutil do registro ficcional à ficção de verdade não produziu todos os efeitos que o texto, tão belo, parece revelar.

O filme de Monicelli foi recentemente lançando em sua versão integral em dvd no Brasil. Previsto para a televisão, no cinema é reduzido em pelo menos 1 hora.

29.6.08

Só o fim do mundo

Louis (Pierre Louis-Calixte, acima), trinta e quatro anos, está prestes a morrer. Sem saber exatamente o porquê, decide rever sua família depois de longos anos sem contato, a não ser pelos cartões postais. Pretende anunciar sua morte. Em vez disso, no entanto, desperta um turbilhão de rancores adormecidos, de antigas cóleras, de histórias mal resolvidas, de fantasmas. Com exceção dele, todos falam, procurando preencher os silêncios: sua mãe (Catherine Ferran), seu irmão (Laurent Stocker), sua cunhada Catherine (Elsa Lepoivre), sua irmã (Julie Sicard). Essa história, chamada Juste la fin du monde, poderia ser a de muitos, como é, parcialmente, a do próprio autor, Jean-Luc Lagarce (1957-1995). Acaba de entrar no repertório da Comédie Française, com estréia dirigida por Michel Raskine. Pouca ação e um discurso poderoso. Ao não dizer o essencial, ecoa culpa, dor e, portanto, incomoda. O silêncio, entretanto, não impede que Louis selecione os momentos daquela visita capazes de dizer a sua verdade, com irônicos cortes sonoros que parecem cliques de máquina reflex.

Segundo o Ministério da Cultura, as peças de Lagarce estão entre as mais representadas na França depois de Shakespeare e Molière. Tudo caminha para torná-lo um clássico, Juste la fin du monde e Nous, les héros são parte do programa do “baccalauréat théâtre” 2007-2008. O primeiro link contém uma ótima entrevista com o ator principal.

Saint Denis

Se em Paris a população imigrante movimenta a cidade economicamente, embora bem escondida (para de fato ver esses homens e mulheres é preciso pegar o metrô às 5 da manhã, num dos primeiros horários, ou os ônibus noturnos, depois que o metrô deixa de funcionar), no centro de Saint-Denis eles estão por toda parte, vestidos de acordo com os costumes de seu país. Fomos até lá para ver a basílica e catedral, com seus grandes vitrais filtrando luzes coloridas. Símbolo de poder econômico, e sobretudo real desde a Idade Média. Lá estão os restos mortais de vários reis, rainhas, príncipes, princesas e homens estreitamente ligados à nobreza. Uma vez certos de que Saint-Denis caíra naquele lugar, depois de decapitado em Montmartre, todos (os que podiam) quiseram estar ao lado do santo e partilhar um pedacinho do céu. São, portanto, várias estátuas jacentes (elaboradas para guardar o corpo inteiro, as entranhas ou apenas o coração), monumentos funerários gigantescos e túmulos (em pedra, mármores variados, metálicos). Entre os grandes ali sepultados estão Carlos V o sábio, Luís XVI, Maria Antoanete, Henrique II, Catarina de Médici e o meu predileto, Pepino o breve!

Château de Versailles

Ontem, a companhia de amigos nos fez passar o dia em Versailles. Último final de semana, um pouco de sol. O conhecido castelo está a trinta minutos de Paris. Somado aos jardins, ao Grand Trianon e ao Hameau de la Reine, dois outros conjuntos de prédios e áreas verdes, é um bom convite a um dia de ócio. Pelo preço, no entanto, sabendo das ofertas de espetáculos em Paris e mesmo dos apartamentos reais decorados, como os de Napoleão no Louvre, sempre vazios de turistas, é possível voltar relativamente decepcionado. O tal do grande show de águas, que começa agora no verão, nada mais é do que as fontes funcionando normalmente, com altofalantes tocando música barroca e simulando ruídos à la George Lucas. Mas há vários lugares pitorescos: a grande sala de vidros, o quarto dourado do rei sol, uma cidadezinha de interior construída em torno de um lago, aldeia da Marie Antoinette, uma fazenda, o grande canal em forma de cruz. Bom mesmo, contudo, para fazer um pique-nique e vislumbrar o erotismo por vezes indiscreto das fontes de água.

28.6.08

Melancholia de George Friedrich Haas

A Ópera de Paris começou a montar há alguns dias no Palais Garnier a inédita Melancholia de George Friedrich Haas, compositor norueguês nascido em 1953. Inspirado pela vida do pintor Lars Hertevig, conforme relatada pelo romance de Jon Fosse, encheu de música maravilhosamente moderna uma história simples, bem simples, talvez até um pouco tola. A direção musical de Emilo Pomarico, ótimos cantores (Otto Katzameier e Melanie Walz), belo cenário minimalista de Stanislas Nordey e o Klangforum de Viena ajudaram a manter a impressão de seriedade. Garantiram, com isso, o entusiasmo do público de ontem.

27.6.08

A Cartoucherie de Vincennes era uma fábrica de armamentos e estava abandonada. Nos anos 70, o conjunto de armazéns, em vias de demolição, passou a ser ocupado, primeiro pelo Théâtre du Soleil, depois por outras companhias, como o Théâtre de la Tempête, de l'Aquarium, de l'Epée de Bois e o Théâtre du Chaudron. Na zona 3 de Paris, o lugar é especialmente campestre, no meio do atual Parc Floral (antes também propriedade do exército). Isso não impede, entretanto, que Shakespeare seja ali representado. Em Penas de amor perdidas, tudo é artifício e explosão para concretizar sonhos e prazeres ingenuamente proibidos pelo rei de Navarra e seus amigos, antes engajados numa abstinência de três anos destinada ao conhecimento e ao estudo. A adaptação é de Ariane Bégoin, a direção de Hélène Cinque e a coreografia de Marie Barbotin. Espetáculo de muitas risadas, com dança, pantomima, canto e clowns. Também muita cultura pop, empregada às mil maravilhas para atualizar a peça: de Aznavour a Mika, passando por hits americanos e filmes como Sex and city e Tigre e o dragão. Destaque para os papéis farsescos de David Levadoux (Don Adriano de Armado, acima, à esquerda, no cartarz da temporada anterior) e Nicolas Vallet (Courge, à direita), além da graciosa canção de Jacquinette interpretada por Julie Autissier.

Dica para tornar o passeio ainda mais agradável: indo ao Théâtre du Soleil (o único que chegamos a conhecer), aproveite para jantar. Tudo bom e barato, em meio a budas vermelhos e velas, num ambiente verdadeiramente decontracté/relax.

23.6.08

Mecenas e benfeitores, a propósito do Marmottan

Que seriam dos museus franceses sem as doações e os mecenas? É o que nos perguntamos diante do Musée Marmottan Monet de Paris. No Brasil, certamente gostaríamos de suspirar assim, mas o panorama é outro, bem distante, e falamos dos roubos e da falta de dinheiro do MASP, da Pinacoteca de São Paulo, do Museu do Ipiranga e do Museu da Chácara do Céu. Todo o acervo do Marmottan, desde o legado de móveis e bronzes napolitanos e dos documentos históricos da família Marmottan, passando pelos quadros impressionistas colecionados por Georges de Bellio (médico de Manet, Monet, Pisarro, Sisley e Renoir), também pelos quadros herdados pelo filho de Monet, Michel - foram generosamente doados. Depois ainda vieram as obras reunidas por Henri Duhem e sua esposa Mary Sergeant, por Denis e Annie Rouart (Berthe Morisot, Manet, Degas, Renoir e Henri Rouart), além das iluminuras dos séculos XIII ao XVII da família Wildenstein. Um espaço inteiro é dedicado a Claude Monet, o que faz a delícia dos que se encontram com traços, cores e paisagens incrivelmente livres, antes mesmo das vanguardas do século XX (acima La Barque, óleo sobre tela de 1887).

Alguns hotéis em Paris

Já quase fechando as malas, mas pensando num possível retorno, guardamos, antes de revender nossos guias de Paris, alguns endereços de hotéis simpáticos com preços razoáveis. Talvez por isso, a maior parte sem endereços na internet. De todo modo, é sempre melhor dividi-los.

No 1er: Hôtel Henri-IV (25, pl. Dauphine, 01-43-54-44-53, M. Cité, Châtelet, Pont-Neuf, 40-72€).

No 9ème: Hôtel Le Rotary (4, rue de Vintimille, 01-48-74-26-39, M. Place de Clichy, Saint Lazare, 47-54€).

No 10ème: Hôtel du Marché (6, passage du Marché, 01-42-06-44-53, hoteldumarche @netcourrier.com, M. Château-d'Eau, Jacques-Bonsergent, niveu du 62 du Faubourg Saint-Martin, 43-56€), Hôtel Palace (9, rue Bouchardon, 01-40-40-09-45, palace-hotel@club-internet.fr, M. Strasbourg-Saint-Denis, Jacques-Bonsergent, 25-38€), Hôtel Marclau (78, rue du Faubourg-Poissonière), 01-47-70-73-50, hotelmarclau.com, M. Poissonière, Bonne-Nouvelle, 33-39€), Hôtel du Brabant (18, rue des Petits-Hôtels), 01-47-70-12-32, reservation@hotel-brabant.com, hotel-brabant.com, M. Gare-du-Nord, Gare de-l'Est, 40-52€), Hôtel Moderne du Temple (3, rue d'Aix, 01-42-08-09-04, reception@hotelmoderne.dutemple.com, hotelmodernedutemple.com, M. Goncourt, 40-53€).

No 11ème: Hôtel de Vienne (43, rue de Malte, 01-48-05-44-42, hoteldevienne@aol.com, hoteldevienne.com, M. Oberkampf, République, 38-57€), Hôtel Printania (16, bd du Temple, 01-47-00-33-46, M. République, Filles-du-Calvaire, 37-54€).

No 14ème: Hôtel des Voyageurs (22, rue Boulard, 01-43-21-08-20, hotel.des. voyageurs2@wanadoo.fr, hoteldesvoyageursparis.com, M./RER B Denfert-Rochereau, 50€.)

22.6.08

Cyrano de Bergerac

No próximo dia 26 de julho, a famosa peça de Edmond Rostand terá sido encenada mil vezes na Comédie Française. É, portanto, dentro de uma tradição assombrosa que se inscreve a atual direção de Denis Podalydès. Nenhum palpite poderia tornar melhor a representação. Cada cena parece o resultado de centenas de homens que durante mais de um século imaginaram as melhores combinações para iluminar, ambientar, vestir, coreografar, esgrimir e atuar. E no entanto, com que naturalidade tudo é realizado, um pouco como se não houvesse outra maneira! A montagem ganhou nada menos que 6 Molières (direção de Podalydès, decoração e cenário de Éric Ruf, figurino de Christian Lacroix, iluminação de Stéphanie Daniel, de novo Éric Ruf como ator coadjuvante e Molière do teatro público). Estranho que na lista não esteja Michel Vuillermoz, a encarnação mesma de Bergerac (acima).

Fête de la musique


A Festa da música é um evento anual em toda
a França. Marca o início do verão, com festividades que se espalham por todas as cidades. Ontem mesmo em Paris, parece ter havido ótima música para o lado da Cour d'Honneur do Invalides. Mas o site da festa, desorganizado e com bem menos informações do que havia para fazer, fez com que pensássemos em ir ao Olympia, depois ao jazz do Duc des Lombards. No fim, ficamos ao sabor do vento, percorrendo Paris em busca de algum lugar acolhedor. Quando descobrimos, na Rue de Rennes, a música já estava para terminar. Acima o vídeo de um senhor que distribuía letras de canções e compartilhava o microfone, em meio a inúmeros grupos de rock, cada um numa esquina com sua guitarra (manifestação espontânea, diferente da "Virada Cultural").

21.6.08

Um Quixote português em Paris

A Comédie Française vem encenando Vida do Grande D. Quixote e do Gordo Sancho Pança, uma paródia de Cervantes. Dez anos depois de suas antigas aventuras, Quixote e Sancho teriam sido novamente capturados pelo mundo da cavalaria. O texto original é de Antônio José da Silva (1705-1739), “o Judeu”, nascido no Brasil embora considerado como escritor português. Na montagem de Emilie Valentin, além de mais de 50 marionetes, aparecem os próprios atores (destaque para o sempre irretocável Nicolas Lormeau no papel de Carrasco). Os bonecos, claro, são incríveis, belamente vestidos e moldados. Alguns do tamanho de uma pessoa (a velha babá de Quixote, alguns nobres que recebem os aventureiros em seu palácio), outros pequeninos (a musa de Montesinos ou as de Apolo, também os poetas do Parnaso). No entanto, o recurso dos bonecos é explorado a exaustão. Por vezes os atores têm duplos (como as miniaturas de Quixote e Carrasco num magnífico combate a cavalo em cima de um varal), por vezes eles manipulam bonecos (como a mulher de Sancho que empresta sua voz e movimentos à marionete de sua filha, Sanchinha). Em outros momentos, apenas comparecem os bonecos (como na aparição de Dulcinéia, acima). A despeito do desdobramento enfraquecido, tudo o mais é beleza - o cenário de Éric Ruff é fabuloso - num clima de zarzuela, com as loucuras de Quixote declamadas em alexandrinos, trechos de opereta e de dança.

20.6.08

Jess Franco na Cinamathèque

O cineasta espanhol Jess Franco esteve anteontem na Cinemathèque Française para a abertura de uma mostra consagrada à parte de sua filmografia, até 31 de julho. Filmes B ou de terror, feitos com uma liberdade inimaginável. Admirado por Orson Welles, que lhe confere a direção da segunda equipe de Chimes at Midnight. É dele um Conde drácula de 1966 ou Gritos en la noche, considerado um dos primeiros filmes de horror espanhol. Assistimos ao inquietante Necronomicon, elogiado por Fritz Lang no Festival de Berlin. De 1968, triller erótico-onírico, em que Faustina (sim, ela fez um pacto com o diabo), encarna uma artista de show sadomasoquista. Através dela, belas imagens lentas, deslocadas, e uma seleção musical meio clássica (Bach, sobretudo), meio jazz, estranhamente agradável.

Mais um site noir na rede, Bad Linguistics.

Patti Smith na Fondation Cartier

A Fondation Cartier para a arte contemporânea, fundada em 1984, está instalada desde 1994 num bonito prédio de vidro e aço concebido por Jean Nouvel no Boulevard Raspail. Com dois espaços reservados para exposições, recebe desde março uma mostra sobre Patti Smith, roqueira americana e artista "apaixonada por Rimbaud", como afirma o folheto de apresentação. Deve ter muitos amigos. No meio de fotos inexpressivas, objetos pessoais, rabiscos na parede, vídeos atormentados e videoclipes, no entanto, um interessante conjunto de desenhos eróticos, outros apenas sugestivos.

A Fondation Cartier não tem nada a ver com Henri-Cartier Bresson.

18.6.08

Cinco horas com o Rei Lear

No Théâtre du Nord-Ouest (Faubourg Montmartre, 13), o diretor Jean-Luc Jeener monta desde o início da temporada a integralidade das peças de Shakespeare. Fomos ver o Rei Lear, representado sem cortes, durante 5 horas. O teatro é espartano, com pouca ventilação e quase nenhum conforto, além da lembrança já longínqua de seu passado dos anos 30, quando era o cabaré onde cantava Edith Piaf. Apesar disso, o tempo voa, graças ao mérito de excelentes atores como Philippe Desboeufs (rei Lear), Jérôme Keen (o nobre e leal Kent), Cedric Grimoin (bobo da corte de Lear), Dimitri Fornasari (Edgar, o filho legítimo do conde de Gloucester que se transfigura em louco e vagabundo). A direção é austera como o lugar, no sentido de que não admite cenário. Recordaria Brecht dizendo "não se enganem, isso é ficção!", se não fosse tão sem intenção. Não faz mal, nós também nos deleitamos com a oportunidade magnífica de (só) ver funcionar a trama original!

16.6.08

Richard Serra e um passeio no Grand Palais

Até ontem, no grande pátio transparente do Grand Palais e para o evento Monumenta 2008, era possível caminhar entre cinco imensas placas de metal com 17 metros de altura, 4 de largura, 40 toneladas e aproximadamente 20 cm de espessura que, pasmo geral, foram colocadas na vertical e em equilíbrio no chão. Desafio técnico e artístico de Richard Serra, buscando reinventar e ao mesmo tempo alterar a percepção do espaço em que são dispostas suas esculturas. Ligeiramente inclinadas, instalam um questionamento sobre o espaço arquitetural, a função da escultura e o sentido que cada um lhe confere.

15.6.08

Festival des puces em Saint-Ouen


Saint-Ouen é um bairro periférico de Paris, por onde passa a congestionada linha 13 do metrô. Não é longe, 15 minutos a pé de Montmartre. E conta com os benefícios de estar a meio caminho da periferia: aluguéis mais baratos, supermercados grandes, vida de interior.
A cada ano, a prefeitura organiza um festival de jazz manouche/cigano, o festival des puces, nas proximidades de seu badalado mercado de pulgas. Segue até amanhã, com programação musical nos bares e um palco para artistas conhecidos. Nele se revesaram ontem excelentes cantores e violeiros na linha de Django Reinhardt: Thomas Dutronc, Sanseverino. Ao lado, enquanto se arrumava o palco, uma "guinche"/ baile, animado e familiar (vídeo acima).

13.6.08

Euro 2008, Holanda e França

Depois da fúria na semifinal de rugby do ano passado, sempre estamos à espera de explosões de euforia nesta cidade de gestos contidos. Durante o jogo de hoje, nós na Comédie Française, aguardávamos alguma manifestação. Saindo do teatro: silêncio, caras de tédio, bares, metrô vazios. Pelo desconforto visível, a goleada tinha sido implacável. Com a derrota por 4 X 1 para a Holanda, a França depende agora de outros resultados para seguir às quartas de final.

10.6.08

Mont Saint-Michel

“O Mont-Saint-Michel é um bibelot”, assim definiu uma amiga nossa há poucos dias atrás. Para visitá-lo viajamos 4 horas e ½ numa excursão que assegurava que haveria maré alta, prevista na verdade para só depois que voltamos. Mesmo assim, a vista do monte aproximando num quadro de pastos verdes imensos e milhares de ovelhas impressiona. Se a maré tivesse vindo, as águas do canal da Mancha cercariam-no e fariam dele uma ilhota. Para as características e qualidades que ostenta - imagem do Paraíso ou de Jerusalém celeste durante a Idade Média, abadia e fortificação militar desde o século X, prisão entre 1789 e 1874, patrimônio mundial da Unesco e símbolo, enfim, da identidade nacional francesa - as 3 horas e ½ que permanecemos ali poderiam parecer insuficientes. Mas não. A verdade é que fizemos render a visita à abadia, tirando fotos (no flickr) e aproveitando a companhia dos colegas.

É bom que se diga. A antiga aldeia ao pé da fortaleza se transformou num grande shopping ao ar livre, com lembrancinhas para todos os gostos (todos mesmo) e crepes - para levar - mais caros do que uma refeição em Paris.

A casa de Victor Hugo

Quando Victor Hugo viveu no segundo andar de um prédio na Place de Vosges entre 1832 e 1848, já era famoso por sua peça Hernani e pelo romance Notre-Dame. Conhecemos o museu faz alguns meses, mas numa visita noturna bastante inusitada, durante a Nuit Blanche. Dessa vez resolvemos ver às claras: paredes forradas em vinho, móveis desenhados pelo próprio Hugo, também o gabinete chinês que ele concebeu e decorou para sua amante, Juliette Drouet. O primeiro andar do edifício é dedicado a exposições temporais realizadas a partir dos fundos do próprio museu. Vimos fotografias antigas conservadas pelo escritor, algumas tiradas por Julia Margaret Cameron, outras anônimas. Também telas que ilustram cenas do romance Notre-Dame (entre as mais comoventes, as de Jean-Jacques Henner, acima) e uma sala dedicada à recepção de suas obras teatrais, com caricaturas, cartazes e desenhos da época.

9.6.08

Musée Bourdelle

Uma coleção de pinturas, desenhos, fotografias e esculturas de Antoine Bourdelle (1861-1929) está no agradável bairro de Montparnasse. O museu, fundado em 1949, ocupa a última casa do artista, ampliada em várias épocas para poder receber sua produção, de um classicismo de formas contidas ainda que as dimensões sejam espetaculares (um exemplo é Monument au général Alvear ou La France, com mais de 14 metros de altura). O mais bonito do Museu, no entanto, é passear pelos jardins, onde as esculturas estão em completo equilíbrio com a luz, as árvores e o verde, sobretudo os baixos relevos, mais modernos e com maior sugestão de movimento se comparados às esculturas. O interior está um pouco esquecido, com teias de aranha e poeira aqui e ali. Ainda assim, abriga duas exposições temporárias (que tornam a entrada paga): manuscritos do próprio Bourdelle e conjuntos sem graça de desenhos e intervenções de Alain Séchas agrupados sob o título Rêve brisé/Sonho Partido, nome que já diz muito (para não dizer tudo). A imagem acima é da estátua Hérakles do Musée d'Orsay, que também está no museu Bourdelle (difícil localizar os baixos relevos na internet).

Dois filmes

Já é quase obrigatório o encontro do ciclo de cinema organizado por Jean-Louis Comolli, documentarista e ex-redator do Cahiers du Cinéma. Desta última vez, ainda no Centre Pompidou, dois documentários (serão mesmo?) recentes, inquietantes. O primeiro Disneyland, mon vieux pays natal de Arnaud des Pallières (2000), relato nostálgico, benjaminiano, de uma visita à Disneylândia de Paris. Questionamento da infância, em que a ausência de som direto parece conferir outra dimensão às imagens afetivas. Filme perpassado pela presença de personagens deslocados: um senhor freqüentador do parque desde a morte de sua mulher. O outro filme, mais estranho, Scènes de chasse au sanglier de Claudio Pazienza (2007). Com um texto fragmentado, repetitivo, sobre imagens desconexas e belas. Inscreve-se também a partir de uma ausência, do pai, a qual pretende trazer o poder remediador (e presentificador) da imagem. Para ouvir os debates, aqui o link.

4.6.08

Jazz in Paris

A cena de jazz em Paris não é, evidentemente, mais a mesma da época em que recebia músicos americanos como Chet Baker. Na rua des Lombards, no entanto, alguns bares ou clubs jazz disputam a atenção de uma diversificada clientela ao longo de toda a semana. O Duc des Lombards e o Sunset/Sunside (com dois shows simultâneos) são dois deles, caros em geral ou com consumação obrigatória, também cara (15 reais um copo de suco de laranja!). Há outros listados em alguns sites especializados como o Jazzman, o Jazz à Paris ou a associação Paris Jazz Club: um no Quartier Latin, o Caveau de la Huchette, outro perto da igreja Saint-Germain des Près, o Centre Tchèque. São simpáticos. Mas insisto em preferir o improviso dos Disquaires, ao lado do qual se pode comer, mesmo depois das 11 da noite (em Paris, já há restaurantes fechados), um ótimo tartare. A foto acima foi do concerto de Jean-Philippe Viret, no baixo.

Campinas no futuro

Não resisto a outro título: Por que me ufano de Campinas. Acontece hoje a inauguração solene da Nova Rodoviária de Campinas ou terminal multimodal (a rima é simpática). Deve ter banda de música. Embora a imprensa local (CBN, Cosmo, EPTV) não esteja dando muita bola, trata-se de grande acontecimento. De lá partirão, no futuro, os trens-bala a São Paulo e ao Rio de Janeiro. Ou os trens-meia-bala, como já tentaram incluir no projeto. Para os detalhes do cronograma de funcionamento, um link segue aqui.

3.6.08

Le Grand Rex

As atrações de Paris não têm fim. O Grand Rex é uma sala de cinema construída em 1932 no boulevard Poissonnière. Com três grandes inconvenientes. Os ingressos são um pouco mais caros, em geral só há blockbusters, e, todos eles, quando não franceses (Astérix e equivalentes), são dublados. Nas sextas e sábados, há grandes filas na porta e talvez se deva a elas uma parte da animação da região pela noite. Não, não vale apena estragar a surpresa. Previsto para 2800 lugares, com uma decoração art déco e teto de estrelinhas, tornou o carismático Indiana Jones ainda mais espetacular.