31.10.07

Dupla jornada

Dia de sol, hoje, 13 graus. Véspera de feriado, decidimos ir ao Bois de Boulogne, extenso parque nos limites de Paris. Com sua dupla utilidade pública: durante o dia, lugar das famílias, onde é possível fazer um picnic e passear de barco. À noite, cerne dos animados encontros de travestis (muitos deles brasileiros), prostitutas e aficionados. O site da revista Choc.fr consagrou, recentemente, um "diaporama" e uma matéria exclusiva à questão, com comentários hilários e imagens desaconselhadas a menores. No verão, o Bois de Boulogne torna-se mesmo um lugar "turístico". Sobre os brasileiros no exterior, no entanto, o melhor são as piadas reunidas no site Hembratur.

30.10.07

Quirocinemancia

Caro, Leo. Hoje deu tudo errado: fiquei duas horas e meia esperando os livros que tinha encomendado na biblioteca. E eles não chegaram. Nesse meio tempo, nas minhas costas, havia o conjunto inteiro da Pléiade. Resolvi consultar os Cahiers/ Cadernos de Paul Valéry. Recolhi uma citação interessante, que traduzi e envio para você.

"O papel estranho e notável da mão no discurso – papel expletivo – talvez uma lembrança degenerada de alguma antiga linguagem dos signos.
(Poder-se-ia fazer um conto de um teórico que reconstituísse/ diria reconstituir/ pela observação das gesticulações atuais – uma linguagem primitiva e através dela o pensamento dos antigos – e estabelecer uma ligação com a mímica animal etc. etc. - fácil)
A mão fala então – oferece, pinça, corta, recusa, reúne, chama, bate, aponta etc.
Ela expõe sobretudo os verbos.

Ela reforça (cf. a mão dos cantores) e marca a escansão – impondo as paradas – definindo as crono-frases.

Mão – aparelho de representação – Espaço." (1925, xáppa, XI, III)

28.10.07

Percurso pelo MAM

Mais um dia de grisaille/cinza. Daí a opção de, no fim da tarde, nos internarmos na coleção permanente de um novo museu, o Musée d’Art Moderne. Ao contrário daquele de ontem, um elefante branco, com salas imensas que dificultam a observação, uma vez que os espaços devem ser atravessados em zig-zag inúmeras vezes para se alcançar a totalidade das obras. Ainda assim, surpreendentes belezas: um arlequim introspectivo e uma "Maternidade" de Pablo Picasso; um sonho de Marc Chagall, numa paisagem invertida, com um burrico carregando uma espécie de princesinha; um conjunto de retratos de pintores em seus ateliês de Édouard Vuillard (um deles de Maurice Denis, acima), o café da manhã de um menino segundo a delicada paleta de cores de Pierre Bonnard; a sala (Raoul) Dufy que recoloca em cena um painel gigantesco sobre a eletricidade, exibido originalmente na Exposition internacionale des arts et techiniques de 1937.

Ah, coitado!

(texto de Tutty Vasques)

Sabe lá o que é você viver em Paris e se apaixonar à primeira vista por Susana Vieira num boulevard daqueles qualquer? Eis o drama do personagem de José Wilker em Duas Caras.

Horário, rainlendar

Só para dizer que agora é horário de inverno na França, menos 1 hora. 7 horas no Brasil, 10 aqui. E para recomendar o Rainlendar, calendário de desktop gratuito, com vários temas. Tem ajudado a tornar a vida menos caótica. Somamos a ele o agora indispensável sidebar do Google desktop, para ver a temperatura.

27.10.07

Vida romântica x Clichy

Passeio ligeiro e sem pretensões, flanar, mas mantendo-se a idéia de descanso mental depois de tantas horas de colóquio na quinta e sexta-feira passadas. Direção Musée de la Vie Romantique, casa do pintor Ary Scheffer (1795-1858), construída em 1830. Todo um clima, com belíssimos papéis de parede, carpetes aveludados e grandes janelas com vista para o jardim. Nesse lugar absolutamente aconchegante, Scheffer recebeu amigos ilustres (Lizst, Dickens, Turgueniev) e teve vizinhos como Delacroix, Chopin e George Sand. Desta última, conservam-se objetos pessoais, quadros que a retratam e delicadas aquarelas que ela mesma compôs. O divertido é que para chegarmos a esse clima doce passamos pelo Boulevard de Clichy, famoso pelas boates gays, casas de streap-tease, cinemas e lojas pornôs, além de uma concentração ampla e variada de todas as tribos possíveis. Aos pés, apesar disso, da Basílica do Sacré Coeur (foto aqui). Mas para lembrar-nos de que o romantismo é também coisa dos demônios.

Equívoco

Contra os prognósticos, o fim dos jornais pagos talvez demore um pouco mais para chegar ao Brasil, pelo menos em São Paulo. Enquanto a imprensa e as tvs seguem sem regulamentação (como existe em qualquer lugar do mundo), em São Paulo os jornais que são distribuídos gratuitamente nos metrôs e semáforos a partir de agora estarão submetidos a um conjunto de regras (link da matéria). Isso explica os braços dados entre alguns partidos e a imprensa majoritária (link para matéria da criação de uma praça Victor Civita) Explica também o surgimento de um movimento como o MSM e de montagens com a do lado.

26.10.07

Gardenio, Auerbach

Dois dias consagrados ao Colóquio Auerbach na Sorbonne e ao curso (um dos melhores momentos da temporada até aqui) de Roger Chartier no Collège de France. Aparentemente desinteressante por tratar sobretudo do contexto material de circulação de obras literárias. Mas que tem sido bem conduzido, tendo como fio uma história curiosa: o desaparecimento de uma peça de Shakespeare escrita em parceria com outro dramaturgo inglês, intitulada Gardenio, possivelmente sobre a personagem Gardenio de Dom Quixote. Quanto ao colóquio sobre Erich Auerbach, excelente. Com muitos italianos e a impressão de que essas ocasiões repõem um lugar de diálogo e de detida reflexão, muitas vezes ausente nos cursos de pós-graduação da universidade francesa. Sobre os vários aspectos do livro magistral, Mímesis, ao lado.

24.10.07

Impasse de Ramón

As histórias amorosas dos escritores nunca são bem contadas, talvez para manter a aura de uma vida mais aventurosa e extraordinária do que realmente tiveram. Esse é o caso de Ramón Gómez de la Serna, que, segundo contam, se "envolveu", diga-se assim, com a filha de sua amante. A filha era Inesita e a amante, Carmen de Burgos, conhecida como Colombine. Depois que o tal envolvimento foi descoberto, Ramón teria ido passar um tempo em Paris. Substituiu então os encontros madrilenhos, conhecidos como Tertulia de Pombo, em que se discutia literatura e artes, pelo ambiente do Café de la Consigne (quem sabe talvez o mesmo: 4 Boulevard de L'hôpital, 75005, Paris). Trocou, diga-se de passagem, também de companheira, no momento em que (não é piada, diante das circunstâncias) entrou na Académie Française de l'humour. O prédio ao lado, no fundo de uma rua sem saída, foi onde morou, no 14º arrondissement de Paris, em 1929. Seu cartão de visitas da época dizia RAMÓN Gómez de la Serna, 7, Impasse du Rouet, 1er étage, n. 6, métro Alésia. Hoje fomos visitá-lo, de posse, aliás, de uma nova câmera, desta feita digital (ah! a tecnologia!), e que nos permitirá, a partir de agora, mostrar fotos da viagem por meio do La brioche con Ramón no flickr (também na barra de favoritos).

23.10.07

Arenas de Lutécio

Almoçar ou jantar em Paris é caro. Algo em torno de 10 a 15 euros, no meio-dia, procurando-se um tanto e com o risco de comer não muito bem. Algumas alternativas a isso são os restaurantes de comida "étnica", dentre eles os chineses. Por vezes, o seu prato pula para dentro do micro-ondas e voilà! Não é estranho, portanto, que existam vários restaurantes administrativos nas universidades ou mesmo em empresas. Tampouco o afluxo considerável de pessoas (e estudantes) na porta das padarias, para um sandwich. Depois come-se andando (bem comum) ou em algum lugar agradável, enquanto não é inverno. O de hoje foram as Arenas de Lutécio (foto acima, que se pode ampliar). Construídas no século I e relativamente preservadas, graças a um pedido de Victor Hugo em 1883, quando se planejou construir lá um depósito de vagões. Ficam à meio caminho entre o Panthéon da Sorbonne e o Centre Censier, onde está o prédio modernoso da Sorbonne Nouvelle e sua biblioteca barulhenta. Próximo às arenas morou o historiador Émile Mâle, um pouco ao lado, atravessando a rua, Réné Descartes, Diderot e Hemingway (este, num período em que a região era considerada barata). Em tempo, no caminho, pensamos que talvez deva existir um catálogo com os endereços da casa de escritores em Paris. Huysmanns, por exemplo, organizou sessões de satanismo no 9 rue Suger. O site terredesecrivains, embora não desdobre as anedotas, traz alguma coisa.

22.10.07

Vôos na Europa

Anteontem fizemos o planejamento de nossa primeira viagem européia. Como fui alertado pela FMSH que não era recomendável sair da França antes de dois meses de estadia, tempo para correr a burocracia de meu visto, (o episódio é que um chinês bolsista resolveu ir à Espanha ano passado, foi confundido com um contrabandista e preso por três dias), resolvi esperar. Nesse meio tempo, descobrimos várias companhias aéreas de baixo custo: Vueling.com, Airberlin, Easyjet, Ryanair, Skyeurope, Clickair cada uma com sua particularidade: Airberlin tem vôos sobretudo para a Alemanha, Skyeurope para o leste europeu, etc. Antes, outro parêntese: o site da Sncf, companhia de trens da França, que detém o monopólio do transporte terrestre, não vem apresentando bons preços. Enfim, conseguimos comprar uma passagem para Roma (dias 6 a 10 de dezembro), depois de testar várias alternativas para vários lugares. 1 euro para ir, outro para voltar. Mas não é bem assim. Somam-se taxas de embarque, taxas de compra com cartão de crédito, limite de bagagens (10 kg cada um gratuito), taxas de check-in, tudo 60 euros para os dois, o que ainda é barato. Além disso, o aeroporto é mais distante, Beauvais, a 100 km de Paris.

Labirintos

Labirinto do pórtico da catedral de Lucca. Para que não aconteça mais o imprevisto da manhã. Horários: da Bibliothèque National de France (segunda das 14 às 20h, resto da semana a partir das 9h); Bibliothèque do Centre Censier (segunda das 13 às 19:30, terça-sexta 9 às 19:30); Biblioteca da FMSH (9 às 19, segunda à sexta); Bibliothèque de la Sorbonne (segunda, terça, quarta, sexta: 9-19 h, quinta 11-19h, sábado 9-18h).

21.10.07

Arthur Honegger

Pouca coisa, hoje. Fomos assistir agora à tarde ao "Rei David" de Arthur Honegger (foto ao lado), cujo site oficial está no seguinte link. Música moderna, coral e religiosa. Executada pela orquestra dos Conservatórios do X e XI "arrondissements" e por um conjunto de jovens solistas, Kaja Kapitaniak, Lynda Bisch e Shuo Du, que penaram um tanto para se fazerem ouvir na acústica desfavorável da Igreja Saint Vincent de Paul, a alguns quarteirões daqui. (Em tempo, ao lado foram incluídos novos links para Madrid e um outro, ainda inativo, para a galeria de fotos do Flickr, que pretendemos atualizar).

20.10.07

Coisas de museu

Fomos agora à tarde ao Musée Carnavalet, museu da história de Paris (foto panorâmica acima). Várias coisas: vestígios arqueológicos da cidade na antigüidade e na idade média, reconstituição de lojas de comércio e de quartos (o de Marcel Proust é um deles, sóbrio, com um revestimento para minimizar barulhos), salas sobre a Revolução, a Segunda República, etc. Foi possível pensar na volta agitada pelo bairro do Marais, quando deparamos com uma loja de discos liquidando tudo, em coisas que em breve talvez estejam em museus. Quatro delas: telefones públicos (em Paris, estão abandonados: quem tem dinheiro usa celular, quem não tem vai a lojas de voz sobre ip ou a lanhouses), lojas de cds (com exceção da Fnac, cuja parte de música nem é a das mais animadas, quase não existem mais), jornais pagos (há um grande número de jornais distribuídos no metrô, como já acontece em São Paulo), lojas de revelação de fotos. Sabendo da situação da imprensa no Brasil e da tv (soube que perderam 3o% de audiência nesses últimos tempos, para a internet?), quem sabe possamos incluir na lista de coisas que deveriam estar em museus Clóvis Rossi, Arnaldo Jabor et caterva.

19.10.07

Metrô de Paris

A foto (Metrô, Paris, Fall 2006) é de Alyssa Hursh, finalista do OCS Photo Contest. Soube que a imprensa brasileira vem repercutindo a greve no sistema de transportes francês. Não sei se ela omite os motivos da reivindicação dos trabalhadores e insiste em tratar apenas dos congestionamentos, como se faz freqüentemente na cobertura jornalística em São Paulo. E, nesse caso, a greve fica parecendo tão somente um ato de barbárie contra o usuário (em Paris, ouve-se por vezes que a reivindicação dos grevistas é da ordem da manutenção de privilégios, sobre os quais eu não saberia dizer muita coisa). De todo modo, nesses dois dias há uma constatação: o sistema não funcionando em Paris é melhor do que o que diz operar "em normalidade" na cidade de São Paulo. Demora-se um pouco mais a chegar nos lugares, os trens estão cheios, a cidade um pouco caótica, muitas bicicletas na rua (supostamente alguns usuários do Velib teriam "reservado" a "sua" bicicleta na véspera). Mas, definitivamente, não é São Paulo.

18.10.07

Yves Bonnefoy

Pouco antes de vir à Paris, recebi uma notícia preocupante. Haveria justamente na Paris 3, Sorbonne Nouvelle (a que estou ligado), um encontro com os poetas Yves Bonnefoy, Michel Deguy, Márton Kalász e Wulf Kirsten. Sobre o colóquio, organizado pelo professor Stéphane Michaud, fui de fato triplamente alertado, inclusive pelo próprio organizador, entusiasmado com a presença de Yves Bonnefoy e com o meu interesse por sua obra. Hoje, enfim, depois de alguns anos de pesquisa dedicada ao estudo da obra poética de Yves Bonnefoy, pude encontrá-lo pessoalmente pela primeira vez. Não sem hesitações. Diante dele, que lembrava de ouvir falar de meu nome através de Michèle Finck, e que não hesitou (pelo menos pareceu-me) em conceder-me um encontro no próximo inverno, quando eu ainda estiver aqui. Mas que estranhou o que me traz à Paris: a preparação de uma antologia da poesia cristã do século XX. A que respondeu, enfaticamente: je ne suis pas chrétien. Segue uma tradução que fiz de um de seus poemas de As Pranchas Curvas.

Uma Pedra


Uma pressa misteriosa nos chamava.
Nós entramos, nós abrimos
Os postigos, reconhecemos a mesa, a lareira,
A cama; a estrela se alargava na vidraça,
Ouvíamos a voz que deseja que amemos
No mais alto verão,
Como brincam os golfinhos em sua água sem margens.

Durmamos, não sabendo de nós. Seio contra seio,
Fôlegos mesclados, mão na mão sem sonhos.

17.10.07

Hoegaarden

Muito sem tempo, hoje: conferências de Michel Deguy, dentre outros, na BNF e na Sorbonne, com leitura de poemas (e muitas escadas rolantes nos trajetos de metrô). Hoje com o metrô cheio, véspera de greve. Só o tempo suficiente para homenagear essa cerveja belga, Hoegaarden, que infelizmente quase não é vendida no Brasil (talvez no mercadinho da Ferreira Penteado, para os que estão em Campinas) e que não se encontra também aqui facilmente nos bares. Nos sites de busca no Brasil, é possível comprar apenas o copo. Cerveja de trigo e especiarias.

16.10.07

Lá da casa do Maurice

Acontecimento do dia: o restaurante Chez Maurice, na rue de Vinaigriers, aqui pertinho de onde a gente está. Pequeno, aconchegante, popular (dividimos uma mesa com dois senhores ingleses). Indicação de um site curioso, Mmmm, e do nosso guia Routard (depois que entramos num traiteur asiatique, pagamos pouco e comemos mal, decidimos só entrar em lugares com alguma recomendação). Sem dúvida, nosso melhor almoço desde que chegamos, a €9,50 o menu. Vamos a ele! Para M. Simpson, salade piemontèse (maionese de batatas, com pedacinhos de presunto, de tomate e salsinha), batatas fritas e boulettes (2 almôndegas grandes, com coentro à vontade e um pouco de pimenta preta, crocantes do lado de fora, praticamente cruas do lado de dentro). De sobremesa, pudim de caramelo. Para Mlle. Grotto, salade piemontèse, andouillette com mostarda (para os já iniciados, uma espécie de tripa gorda argentina... deliciosa, como não podia deixar de ser), salada (alface lisa) e mousse de chocolate... Ulálá!

15.10.07

Nossa Senhora das Vitórias

Hoje, dia de bibliotecas, em separado. Pablo na biblioteca da FMSH, “boulevard Raspail”, com sua nova carteirinha (mais uma), descobrindo lugares ora quentes ora frescos dentro da biblio, além de dicionários, livros pedidos sem querer e formas contemporâneas para a prática do terrorismo acadêmico. Explico: os notebooks dos pesquisadores têm cadeados (até então desconhecidos para nós) o que impede que eles sejam roubados na ausência do dono. Os cadeados, no entanto, são inúteis diante de um disco de boot com outro sistema operacional, uma formatação de disco expressa ou um simples delete. Fabulações pablíferas... Livia, por seu turno, foi fazer carteirinha na Biblioteca Nacional, “site Richelieu”, depois da pré-inscrição ter sido aceita(!). À procura de cartas de um escritor francês sobre Ramón, caiu, claro, no Departamento de Manuscritos Ocidentais (coisa de alguns poucos séculos atrás). Depois, descobriu que tinha que ir ao “Departament de la Musique”, noutro prédio, mas não deu em nada porque as cartas não eram consultáveis. Não faltaram, entre o pedido e a descoberta da não-consultabilidade, algumas horas de frio (minimizadas por meia hora de missa na Notre Dame des Victoires), durante o almoço, zanzando para passar o tempo enquanto o documento ia sendo procurado. Mais fotos da biblioteca Richelieu aqui.

Meu gerente português

Logo que cheguei à Paris, uma das coisas práticas a resolver era abrir uma conta bancária. Na vez passada, para abrir conta foi fácil. Na condição de estudante, deram-me 5 entradas de cinema, 30 euros de compras em livros e direito a fazer 4 fotos de identidade (que foram feitas na agência pelo próprio gerente e ficaram péssimas). Dessa vez, qual não foi minha surpresa ao saber que meu gerente era, como diz Livia, um portuguesinho, pequenino e simpático. Achei mesmo que era cômodo resolver coisas sobre tarifas bancárias em minha própria língua. Virement, por exemplo, é um termo francês que traduz transferência, mas que lhes parece mais uma coisa mensal do que uma simples transferência. Uma semana depois, retorno a agência para pegar meu cartão bancário e descubro que minha senha temporária (aquela que chega normalmente com o cartão bloqueado) foi enviada a meu endereço ...no Brasil.

13.10.07

Montmartre

Festa das vindimas de Montmartre: onde fomos parar hoje, de forma não muito proposital. Uma espécie de quermesse em homenagem à colheita desses pequeninos vinhedos no centro de Paris que, pelo que descobrimos, dão origem a um vinho caro (em torno de 40 euros), mas com sua renda revertida para a comunidade do bairro. A festa existe desde 1934. Barracas de vinho, de comida, muitos turistas, vendedores buscando estorquir os turistas (e isso nos disse respeito diretamente, pois tentaram nos vender uma espécie de pulseira da sorte africana, hakuna matata, por 7 euros cada). Mas simpática, a festa. O link seguinte oferece a programação e algumas fotos do evento. Agora há pouco, vejo que a França está fora das finais no Rugby, depois de perder para a Inglaterra. Íamos assistir ao jogo no telão em frente ao Hotel de Ville, que foi desativado por motivo de segurança. Tudo transferido para o Campo de Marte da Torre Eiffel. Como estivemos lá num dia desses, passeando com um casal de mexicanos, ficamos aqui no bairro. Além do mais, amanhã acontecerá uma festa de fanfarras no parque em frente ao Récollets.

12.10.07

Petit palais

Nossa primeira visita aos museus de Paris, depois de perambular pelos corredores universitários, abrir conta de banco, descobrir lugares razoáveis onde fazer compras (isso inclui a indicada loja de comida congelada Picard), e onde almoçar (por vezes, onde não almoçar), enfim: foi ao Museu do Petit Palais, próximo ao Louvre. Estivemos lá por não mais de 2 horas, as pernas cansadas de tantas caminhadas. Meio museu, diga-se assim. Percorremos um pouco da parte de artes decorativas, de arte naturalista, das coleções de arte grega e romana. Para outro passeio, deixamos a coleção de arte cristã ocidental e oriental. Em meio à disposição solene das salas e das obras, entretanto, foram colocadas peças de arte contemporânea mantendo o espírito de diálogo do museu. A que está ao lado esquerdo, de Shelagh Keeley (não exatamente essa, mas uma outra chamada L'herbier), deixava-se dialogar, por vezes, com outras obras, como La Femme au singe do escultor Camille Alaphilippe. Em meio as escadas em caracol, descia um mergulhador cercado por embalagens de plástico, de Samuel Rousseau. Do mesmo modo, junto às telas realistas, Les ingénieurs de Xavier Veilhan possibilitava um olhar diferente. A informação completa da "intervenção" está no site da prefeitura de paris. Segue o link direto.

10.10.07

Contradições da vida

Será compatível comer um Kebab em Paris e sacar, antes disso, um gel antiséptico do bolso para as mãos, sabendo que o senhor que o serviu manuseia livremente suas moedas durante a preparação? E lembrando-se de que se trata, afinal, de um Kebab (foto acima)? Foi o que presenciamos hoje na Pont Saint Michel. Com isso, uma homenagem a nosso amigo, atualmente enigmático, Leo Couto. A ele se juntou recentemente, ademais, nessa blogsfera sempre um pouco jocosa, outro amigo, Gustavo Conde, ótimo piadista.

9.10.07

Pascal Quignard

Hoje estivemos na Fnac Montparnasse, agora às 17h, para acompanhar o lançamento do novo livro de Pascal Quignard, intitulado La Nuit sexuelle. Nada demais, nem de menos. Perguntas buscando discutir sempre coisas gerais: o erotismo, a psicanálise, a imagem. Mas uma presença simpática desse autor do belo livro Leçon de musique, que compõe, assim como Tous les matins du monde, o roteiro do filme Todas as manhãs do mundo, e que nos autografou uma edição de Les Ombres errantes.

Sonho de consumo

"A maioria dos cheiros é apenas temporariamente desagradável, mas outros podem ser tão fortes e duradouros a ponto de tornarem uma casa, um prédio ou um carro inabitável até que sejam removidos. Não há necessidade de "viver assim" até que o cheiro, eventualmente, vá embora, quando WET pode remover esse cheiro para você." O site já está indicado no link. Só não sei se será possível passar pelos seguranças, que atualmente insistem em pedir a carteirinha na entrada da Sorbonne, e ir ao banheiro acompanhado por uma Thermal Fogger. Em tempo, há modelos mais discretos...

8.10.07

Et voilà!

Voilà! Paciência é tudo nessa vida. Pablo, merecidamente, com sua carteira de professor-pesquisador da MSH tem acesso a todas as bibliotecas francesas. Já não é muito bem o meu caso, que tentei entrar na Bibliothèque de l'UFR d'Études Ibériques "Marcel Bataillon" do Institut d'Études Ibériques e não consegui nada. Na Bibliothèque de Littérature Générale et Comparée da Sorbonne (no fundo, à esquerda da foto acima, no segundo andar, escada C) foram mais simpáticos: a cada visita eu faria um "laissez passez", o que, convenhamos, não é nem prático nem muito convidativo. Mas hoje, nesses passeios internáuticos, descobri que o acesso à Bibliothèque Centrale do Centre Censier (140 mil volumes!) é aberta à consulta no local: pronto! um monte de livros da minha área de pesquisa e um lugar quentinho para trabalhar! Em tempo, ontem preenchi um formulário que solicita entrevista com bibliotecário da Bibliothèque National francesa. Perguntam tudo o que têm direito, inclusive o que você quer consultar. Aí decidem sua vida. Vale a pena tentar (e pagar), o catálogo da BNF é fantástico.

7.10.07

Parc Monceau

Em tempo, ontem tentamos conhecer o Parc Monceau, o "jardim mais aristocrático de Paris", como indica de forma imprecisa um de nossos guias, um "jardim à inglesa", como diz outro. Perdidos todavia com relação às direções da avenida Malesherbes, chegamos à Madeleine, a umas boas quadras de distância do parque. Hoje, com planejamento prévio, pudemos caminhar por lá no meio da tarde, em meio às crianças e idosos, por vezes juntos, e voltar a tempo de trabalhar um pouco. A imagem acima é de Claude Monet.

Nuit Blanche e furor do Rugby

A proposta da noite do dia 6 para o dia 7 de outubro, das 19 às 7 da manhã, era visitar a Paris noturna animada por instalações de arte contemporânea, sobretudo em torno da linha 14 do metrô, que funcionou ininterruptamente. O evento é conhecido como Nuit Blanche. Começamos pela Casa de Victor Hugo, na place des Vosges, o que de saída nos pareceu o mais inusitado: tudo às escuras, com projeções de luz que convidavam a um olhar... estranho. Tudo teria continuado sob o espírito meio arte contemporânea, meio parque de diversão se não fosse a semifinal do Rugby, com vitória da França contra a Nova Zelândia. Um furor: jovens loucos, felizes e paradoxalmente raivosos. Voltamos mais cedo para casa (bem antes das 7 da manhã) porque os pés já não agüentavam a nova rotina de vários kilómetros por dia.

6.10.07

O israelense algemado e a mala voadora

Duas histórias curiosas. No avião da Alitalia, naquelas circunstâncias em que se dorme mais ou menos, sobretudo frente ao barulho das excursões religiosas (alguns com o demônio), eis que observo uma agitação além do normal. Dois comissários de bordo e um homem (àquela altura, talvez uma mulher) de cabelos longos, discutindo. Alguns minutos mais tarde, outra discussão, só que dessa vez com o rapaz já algemado. Mais alguns minutos, a história completa (incompleta, na verdade): o rapaz tirava fotos no avião, quando foi advertido que era proibido. Visivelmente consternado, reclamando, foi solenemente amarrado com algemas de pano, até o fim da viagem. Quando esta terminou, chegávamos na linha de trem do aeroporto Charles de Gaule. Segunda história. Livia decide abandonar uma mala à própria sorte na escada rolante do metrô. Felizmente, a excelente mala Lansey (que já tinha outra história) não quebrou, tampouco feriu algum desavisado em seu vôo de 10 metros.

5.10.07

Metrô

Por ora, temos voltado para o Centre les Récollets cedo, embora sejam 18 horas aqui. Cansaço das caminhadas pelas linhas do mêtro, sempre para resolver coisas absolutamente práticas: abrir conta de banco (dois dias, entrevista, apresentação de documentação, espera para receber o cartão, a despeito do ágil gerente português do CIC); fazer carteira na Bibliothèque de la Sorbonne (descobrir por qual das escadarias subir, aguardar hora de atendimento); buscar informações sobre seminários no centro de estudos ibéricos (subir escadas, procurar os formulários, entender as informações incompletas ou repetidas) (outro parêntese: o mesmo curso universitário às vezes aparece como se fossem três, com nomes diferentes, até que se descobre que se trata do mesmo horário). Enfim, aguentar o calor do metrô totalmente incompatível com o frio da superfície, sobretudo na linha 4, que nos leva diretamente à estação Saint-Michel. Em tempo, a foto acima é de um dos queijos favoritos dos franceses desde a Idade Média, o Sainte-Maure de Touraine, com uma palha em seu interior, feito de leite de cabra.

4.10.07

Quatro poetas

Não encontrei nada na internet, a não ser esta pequena rubrica no site da BNF, sobre o encontro que haverá nos dias 17 e 18 de outubro próximos na Bibliothèque National de France e na Sorbonne. Trata-se de um colóquio consagrados aos poetas Yves Bonnefoy, Michel Deguy, Kalász Márton e Wulf Kirsten, organizado pelo simpático Stéphane Michaud, dentre outros. Começa no dia 17 ao longo de todo o dia no Petit auditorium da BNF (petit de 300 lugares). Prossegue no dia seguinte na Salle Bourjac da Sorbonne, a partir das 10 da manhã. No mesmo dia, aliás, na Saint Sulpice, haverá gratuitamente a execução da 9a sinfonia de Beethoven às 21 horas. (Em tempo, aqui escreve-se com o barulho não desagradável das crianças no Jardin Villemin, até o fim da tarde.)

3.10.07

Esperado, inesperado

Bom, enfim chegamos e é possível ter tempo para postar no blog. A foto acima é da praça central da Sorbonne, onde é possível facilmente perder-se, porque nela concentra-se grande parte das secretarias de departamento e unidades de pesquisa. Por ora, na verdade, tem sido justamente isso: atalhos errados na rede de metrô, mapas de cabeça para baixo, corredores infinitos, distâncias sempre maiores do que o previsto. Mas ça va. Já era esperado. O que não era esperado: a acolhida simpática tanto na Sorbonne, na FMSH, quanto no Centre les Récollets.