28.3.08

A senhoria Julia (1888)

Uma das peças mais conhecidas de Strindberg (1849-1912), dirigida por Miguel Narros, com María Adánez (Julia), Raúl Prieto (Juan) e Chusa Barbero (Cristina) como os únicos personagens de uma história que se passa na cozinha de um palacete sueco. Estará no Teatro Fernán Gómez (Plaza Colón, 4, ao lado da Biblioteca Nacional) até 13 de abril. O dono da casa, o “senhor conde”, não aparece, mas está tão presente quanto essas três personagens, pois é responsável por parte da educação tradicional de sua filha Julia (formada, por outro lado, por uma mãe para lá de feminista), pela admiração e respeito prestados pela empregada Cristina, assim como pela atração e, simultaneamente, repulsa e medo do criado Juan. Entre Juan e Julia, desde o início, há um jogo de sedução que logo se converte em drama moral e existencial, sobretudo para Julia, que se entrega ao criado. O abismo social, de qualquer forma, não pode ser transposto, e ela se debate, ora sonhando, ora cogitando o suicídio. Todas as personagens são bastante complexas e o mérito dos atores é inquestionável, pois jamais se acercam de uma conduta polarizada. Assim, Cristina, apesar de ser namorada de Juan, preocupa-se com Julia, vítima de um rebaixamento incomensurável. Juan, por sua parte, oscila entre um homem inteligente e refinado de baixa extração social e uma pessoa ambiciosa e desprovida de escrúpulos. De todas as personagens, Julia é a única que passa por uma evolução, embora negativa, como num pesadelo que costuma assaltá-la e que será a síntese de sua transição: está sentada numa coluna muito alta, deseja com todas as suas forças descer, mas não pode, tenta diversas vezes, mas fracassa sempre. Sabe, entretanto, que estará satisfeita apenas quando chegar ao nível mais baixo.

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