11.5.08

Pentesiléia na Comédie Française

Em parte do teatro romântico, não raro as grandes paixões são acompanhadas por grandes discursos. Deixa-se de lado a ação, em busca de uma dimensão introspectiva, pessoal. Os sentimentos são ditos, como se se apropriassem os gêneros mais líricos: a poesia, o diário, a confissão. Em Pentesiléia de Henrich Von Kleist, esse universo é transportado para o drama da rainha das Amazonas e de Aquiles. Atração irresistível, em que se mesclam os desejos de vida e de morte. Duelam, amam-se. A cada instante, no entanto, interrompe-se a ação para que expressem seus anseios. Com eles, e conforme a peça vai avançando, todas as angústias do amor, da loucura e da não-correspondência dos afetos. Um cuidado com a elocução é fundamental. É o discurso que deve exprimir o movimento das almas.

Jean Liermier privilegiou essa dimensão de Kleist. Cenários duros, estáticos. Pouca luz, pouca movimentação de cena. Na primeira, os companheiros de Aquiles apenas olham a batalha ao longe (invisível ao espectador), iluminados por um candeeiro, e a descrevem. Essa opção, no entanto, não resiste a interpretações frágeis, inseguras (com visíveis falhas de memória), hesitantes. Sem a confiança nas palavras é como se faltasse o elemento principal de Pentesiléia: uma certa confiança nos sentimentos e na possibilidade de dizê-los a quem está próximo.

Nenhum comentário: