25.4.08

Diário de um louco de Gogol

Diário de um louco é uma novela de Gogol, escrita em 1835. Adaptada ao teatro e constantemente encenada, trata-se do relato dia após dia (com lacunas expressivas, interrupção da iluminação sobre cena) de um funcionário de ministério que vai enlouquecendo pouco a pouco. Surpreende uma conversa entre cães, diz ser o rei da Espanha, Fernando VIII (como o fará, a seu modo, o Quincas Borba de Machado de Assis). Levado ao manicômio, chega mesmo a desconfiar que os maus-tratos provenham de hábitos nacionais inusitados. Imagina-se, então, louco. Encenada com habilidade e realismo por Antony de Azevedo no Sudden Théâtre de Paris, nela há um momento particularmente interessante. É quando a personagem se põe a ler cartas entre dois cães, comentando-as. A ironia e um certo recuo lógico sobre a natureza da relação entre ambos, e de ambos com relação aos homens em geral, produzem um humor devastador. Fazem-me lembrar, num registro mais sofisticado, mas não menos irônico, o Cabinet noir de Max Jacob.

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