1.9.07

Poema de Jean Grosjean

O motivo principal de minha estadia em Paris é a elaboração de uma antologia da poesia cristã/católica francesa da primeira metade do século XX. Soma-se a isso um mapeamento, possivelmente posterior, da recepção brasileira por poetas como Murilo Mendes, Jorge de Lima, Vinícius de Moraes, Murilo Araújo, Carlos Drummond de Andrade, etc. Em meio aos poetas franceses, no entanto, um deles parece não ter sido mencionado pela crítica brasileira, o que não diminui o seu interesse. O poema seguinte de Jean Grosjean faz parte do livro intitulado Elegias:

XXXII

Na montanha, sob a árvore de gomos claros, o
melro de voz livre glorifica a linha sinuosa de teu dorso.

Se chove como um riso sobre os pensamentos
selvagens do cemitério, tua face é mais brilhante
que as praias cujas marés poliram as pedras.

Calçado pela morna bruma do germinal, meu pé
desajeitado esbarra num seixo azul cujo ruído celeste
desce brutalmente ao abismo onde vivemos.

O calor da vida nos volta ao peito quando os tornozelos
se enterram nas neves desfeitas entre as anêmonas,
ou que teu olhar me passa sobre a fronte.

Já o azul violento da altura se põe sobre os teus rins
como outrora a minha mão sobre teu ombro que ainda treme.

Sentindo que te apressas a perguntar, baixo os olhos
a tuas pernas frescas atrás das quais desdobra-se
toda a costa arborizada de Austrásia.

Agora que o sol está em teus joelhos, o lento corvo
que rema no mundo faz errar sua sombra apenas em tua anca,
onde, nas tardes de batalha, rolava minha cabeça.

Passados os horríveis estreitos, escuto, numa luz cúmplice
e contagiante, esse leve sussurro que fizeram teus cílios
primeira vez que se ergueram.

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