16.4.08

O século XIX no Prado

Quadros antes fechados no Casón del Buen Retiro (em reforma desde 1997) e agora expostos nas novas e polêmicas dependências do Museu do Prado (ampliação realizada por Rafael Moneo). Por vezes com reflexos, por vezes dispostos inadequadamente (por exemplo, duas telas de grandes dimensões frente a frente e, portanto, obrigando os espectadores de uma a estarem necessariamente na frente dos observadores da outra), a exposição pretende um itinerário didático, de Goya a Sorolla. Parte-se do mais neoclássico (José de Madrazo, La muerte de Viriato), passa-se pelo Romantismo com motivos retirados da Idade Média ou ainda pelos retratos misteriosos, no limite do sensual (como na tela da Condesa de Vilches, Amalia de Llanto y Dotres, realizado por Federico de Madrazo em 1853 ou na de Raimundo de Madrazo y Carreta, 1879, que conferiu impressionante elegância a um de seus mecenas, Ramón de Errazu). Também pelas paisagens sublimes, com homens pequeninos, com uma e outra ruína. Alcança-se o Realismo de inspiração histórica (Eduardo Rosales, José Casado del Alisal) ou as paisagens que se pretendem realistas (Carlos de Haes) para, enfim, terminar a série de quase 100 quadros com o retrato social, que ora é objeto de crítica (como em Sorolla), ora apenas constata a pobreza ou a dignifica (como em Zuloaga, Victor Manzano ou Mariano Fortuny, este último sobretudo em Viejo desnudo al sol, 1871). Graças a Ramón, o que mais me chamou a atenção foram as representações da rainha conhecida por seu amor desmedido, Doña Juana la loca. De Francisco Pradilla (1848-1921), uma tela cinza de 1877 (acima), em pleno inverno e em pleno descampado, com Juana ao centro, grave e dramática, em contraste com o tédio da côrte obrigado a acompanhar o féretro de seu esposo, Felipe el Hermoso. De Lorenzo Vallés (1831-1910), Demencia de doña Juana de Castilla, 1866, com Felipe ao fundo, recém tirado de seu sepulcro (porque assim Juana acreditava que poderia fazê-lo voltar à vida) e alguns nobres no outro extremo, provavelmente tentando explicar que o esforço seria inútil. No centro, Juana, com o rosto convicto que somente os loucos podem manifestar, e o dedo indicador nos lábios, pedindo silêncio.

Nenhum comentário: