21.6.08

Um Quixote português em Paris

A Comédie Française vem encenando Vida do Grande D. Quixote e do Gordo Sancho Pança, uma paródia de Cervantes. Dez anos depois de suas antigas aventuras, Quixote e Sancho teriam sido novamente capturados pelo mundo da cavalaria. O texto original é de Antônio José da Silva (1705-1739), “o Judeu”, nascido no Brasil embora considerado como escritor português. Na montagem de Emilie Valentin, além de mais de 50 marionetes, aparecem os próprios atores (destaque para o sempre irretocável Nicolas Lormeau no papel de Carrasco). Os bonecos, claro, são incríveis, belamente vestidos e moldados. Alguns do tamanho de uma pessoa (a velha babá de Quixote, alguns nobres que recebem os aventureiros em seu palácio), outros pequeninos (a musa de Montesinos ou as de Apolo, também os poetas do Parnaso). No entanto, o recurso dos bonecos é explorado a exaustão. Por vezes os atores têm duplos (como as miniaturas de Quixote e Carrasco num magnífico combate a cavalo em cima de um varal), por vezes eles manipulam bonecos (como a mulher de Sancho que empresta sua voz e movimentos à marionete de sua filha, Sanchinha). Em outros momentos, apenas comparecem os bonecos (como na aparição de Dulcinéia, acima). A despeito do desdobramento enfraquecido, tudo o mais é beleza - o cenário de Éric Ruff é fabuloso - num clima de zarzuela, com as loucuras de Quixote declamadas em alexandrinos, trechos de opereta e de dança.

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